Antes de ser contratada pelo SBT, a jornalista Rachel Sheherazade trabalhava no pequeno Tambaú notícias, da pequena cidade paulista de mesmo nome. Lá a jornalista teve coragem de dizer tudo o que pensa acerca do carnaval. A moça está certa em todos os aspectos, só resta saber se terá a mesma coragem num jornal de maior porte. Independente da moral de Rachel em manter-se fiel às suas convicções ou atender aos interesses da linha editorial do homem do baú, a jornalista traça uma interessante abordagem sobre o "maior espetáculo do planeta" como falsa e irritantemente a Globo anuncia.
À todos aqueles que acreditam que esta festa já foi diversão, meus cumprimentos.
Dia 6 de fevereiro de 2012, a partir dessa data, os servidores da educação estadual em Goiás estarão em greve. A decisão só veio depois de uma série de golpes que o governador Marconi Perillo e o secretário de educação Thiago Peixoto desferiram na categoria.
Há muito tempo o Sintego tenta ganhar na justiça o direito constitucional do piso salarial para professores. Infelizmente o estado democrático de direito vê a possibilidade de não processar o governador nem enquadrá-lo a pagar aquilo que está deferido por lei, e somente por uma medida federal que envolvia o bloqueio do repasse de verbas da união ao estado, foi cobrado efetivamente do governador o pagamento do piso. Com as costas contra a parede, o governo de Goiás estudou direitinho como pagar o piso usando o mesmo montante que pagara aos professores. O senhor secretário Thiago Peixoto não teve qualquer trabalho, já que seu ofício deveras é a economia, não a educação. Então, na última sessão de 2011, sem qualquer diálogo com a categoria, o governo
estadual achatou a carreira e retirou a gratificação de titularidade dos
professores, causando prejuízos irreparáveis que, no caso dos
professores com nível superior e que tinham 30% de gratificação de
titularidade, ultrapassam R$ 11 mil por ano.Também no início desse ano os funcionários administrativos também
tiveram a carreira achatada, quando o governo
reajustou o salário mínimo estadual, mas não repassou o reajuste para
toda a categoria e até agora não garantiu a data-base.
O governo de Goiás prova que nã trabalha por uma educação pública e de qualidade, seguindo a cartilha neo-liberal do PSDB que enfraquece o poder público para o desenvolvimento do setor privado.
O problema dessa greve é que ela demorou a acontecer. Não estou de maneira alguma a dizer que não participarei dela. Acredito na causa operária e no poder de uma greve; porém o SINTEGO não previu o risco de uma mobilização ser feita tardiamente. Depois de o governador recusar-se a pagar o piso mês após mês, o sindicato deveria ter mobilizado o comando de greve já na assembleia de outubro. Pressionado, o governo poderia ter lançado uma proposta à categoria. O "diálogo" que o sindicato e o governo alegam ter feito durante esses meses só atesta o óbvio. Não existe diálogo entre governo e entidade sindical. O governo age com linha dura, mas infelizmente os trabalhadores não sabem se impor. A política do diálogo soa mais como ganha tempo, tempo este que os trabalhadores não tem.
Hoje o cenário é ainda favorável à greve, mas de maneira muito difícil. primeiro porque parte da categoria está dividida. Enquanto boa parte luta para que tenham seus direitos quanto ao plano de carreira de volta, boa parte dos professores que ainda não têm a formação adequada se sentem confortáveis com o pagamento do piso e não se envolverão com o mesmo ardor à greve quanto seus colegas lesados no plano de carreira. Segundo porque do popnto de vista jurídico, o estado de Goiás está pagando o piso salarial, única exigência da União, e o plano de carreira pode ser alterado livremente pelo governo.
Por outro lado, os trabalhadores da educação devem sim lutar. Não podemos aceitar que o governo torne ainda mais complicada a vida no magistério. Ainda que tardia, a greve vale a pena.
Logo acima estão aqueles que se declararam totalmente contra uma educação pública de qualidade em Goiás. Esses senhores são inimigos do desenvolvimento humanístico, tecnológico e científico em Goiás. Espero que seus rostos e nomes não sejam esquecidos tão logo.
Muitas produções precisam ser dubladas. E por mais que seja interessante assistir uma animação em áudio original, confesso que aprecio mais em dublagem nacional (com exceção das produções japonesas que são infinitamente melhor dubladas em áudio original mesmo).
Mas mesmo as dublagens nacionais precisam de um mínimo de cuidado, o que não ocorre no Brasil. Hoje os dubladores profissionais e os estúdios preocupados com um trabalho de qualidade são colocados de lado por causa dos prazos curtíssimos para a entrega do material e também por agradar "estrelismos" incompreensíveis da nossa mídia. Veja por exemplo como seria a dublagem do filme Enrolados com um dublador nacional de verdade, um profissional que usa a voz como real instrumento de trabalho; e o filme como foi distribuido no Brasil, depois que os responsáveis acharam melhor o protagonista ser dublado por... Luciano Huck. É óbvio que o trabalho deste último é lamentável. Sem um trabalho adequado de voz nas cenas; descaracterização do personagem e o pior: a mesma inflexão de voz para todas as situações, ridícula empolgação do início ao fim.
Tire suas conclusões sobre as dublagens nacionais.
(Update: Quando estou
errado, estou errado. Não há como discutir. Depois de algumas horas desde a
publicação deste post, percebi que a principal objeção feita a ele pelos poucos
que discordam diz respeito não aos argumentos que apresentei, mas ao tom que empreguei.
Classificar como "medíocres", "ignorantes", etc, aqueles
que gostam de dublagem acabou afastando pessoas que, de outra maneira, poderiam
avaliar os argumentos pelo que são, não pela raiva pontual com que os defendi.
E querem saber? Estas pessoas estão corretas. Meu tom agressivo em nada ajuda
os pontos que estou tentando estabelecer, além de ser desnecessário e, em
última análise, infantil. Assim sendo, desculpo-me pela adjetivação excessiva e
pelas hipérboles atiradas aqui e ali e peço que se concentrem nos argumentos,
não na intolerância e radicalismo que exibi em determinados pontos.)
Na última sexta-feira, O
Planeta dos Macacos: A Origem chegou aos cinemas brasileiros com um anúncio
preocupante feito pela Fox: o filme seria lançado com mais cópias dubladas do
que legendadas em nossas salas. Reparem que estamos falando de um longa com
classificação indicativa "12 anos" e que, portanto, esta decisão nada
tem a ver com o conceito de torná-lo "acessível" aos espectadores
mais jovens. Não, a ideia era atender a um público adulto que rechaça legendas
- não por problemas físicos (falarei disto adiante), mas por simples preguiça
de ler. Sim, os defensores da dublagem usam argumentos dos mais diversos (que
contestarei abaixo), mas, no fundo, a questão é uma só: preferem a comodidade
de assistir a um filme que não os obrigue a praticar o que aprenderam na
alfabetização. Afinal, se já fugiram das bibliotecas, por que deveriam ser
encurralados por letras nas salas de cinema?
Obviamente que os
dublófilos não assumem isto, mas, pessoalmente, jamais encontrei alguém que
tivesse o hábito da leitura e reclamasse de legendas. Assim, perceber que são
estes espectadores medíocres e preguiçosos que estão sendo levados em
consideração pelas distribuidoras, passando a moldar a experiência
cinematográfica de todos aqueles que de fato amam esta Arte, é algo que me
revolta absurdamente. Especialmente quando observo que, em sua defesa,
apresentam os mais estapafúrdios argumentos - e antes de explicar por que a
dublagem é nociva aos filmes, irei me deter nas "defesas"
apresentadas por este contingente pró-mutilação.
1) E quem não sabe ler? Não
tem direito de ir ao cinema?
Além de estúpido, este
éum argumento repleto de cinismo,
usando a população analfabeta do país como desculpa para defender sua própria
preguiça de ler. Aqui a questão é simples: seja por questões culturais, sociais
ou simplesmente econômicas (quem não sabe ler geralmente não tem o melhor dos
salários), arrisco-me a dizer que menos de 0,01% daqueles que vão às salas de
cinema são analfabetos. Justificar a necessidade de dublagem em filmes exibidos
nas telonas através do argumento da "acessibilidade" é uma besteira -
e mesmo que um grupo significativo de iletrados tivesse o hábito de conferir os
lançamentos da semana, isto não justificaria a desproporcionalidade crescente
entre cópias dubladas e legendadas.
O fato é que pessoas sem
educação formal têm acesso aos filmes normalmente pela TV aberta - onde 100%
das produções são dubladas. Assim, é justo dizer que esta parcela da população
já está sendo mais do que atendida - especialmente considerando que
praticamente todos os lançamentos em DVD já vêm com a opção da dublagem (e a
palavra-chave aqui é "opção"). Considerando que estas são as formas
economicamente mais acessíveis de se assistir a filmes de todas as épocas,
gêneros e países, é incontestável que a população analfabeta (seja este
analfabetismo real ou funcional) não está sendo excluída do acesso à Sétima
Arte - e eu, como amante do Cinema, jamais defenderia que isto ocorresse.
2) E os deficientes
visuais? Não podem ir ao cinema?
Claro que podem. Mas,
novamente, não creio ser justo que uma minoria absoluta seja responsável por
moldar a maneira com que a maioria irá experimentar os filmes. Além disso, há
duas questões complexas relacionadas ao tema: em primeiro lugar, há o fato
óbvio de que Cinema é uma mídia visual. Há ótimos projetos de áudio-descrição
em vigor, mas estes envolvem salas específicas em sessões específicas -
exatamente como deveriam ser. Sim, ainda têm pouco alcance, apoio e divulgação,
mas a saída não é a dublagem - ao contrário, já que esta não resolve a questão
fundamental de explicar ao espectador cego o que está ocorrendo na tela. Neste
sentido, aliás, a simples dublagem é um obstáculo para os deficientes visuais,
já que as distribuidoras podem alegar que já atendem a esta comunidade através
do áudio em português, deixando de investir na produção de trilhas de
áudio-descrição.
Há, também, o fato de que a
experiência de ir ao Cinema é única justamente em função do mergulho sensorial
oferecido pela sala - e, neste, o mais importante reside justamente no tamanho
da tela e da imagem. Ora, para o deficiente visual, este é um fator nulo por
definição, o que torna curiosa a insistência daqueles que os usam como desculpa
para a dublagem. Por outro lado, os mesmos que defendem ferrenhamente o acesso
dos deficientes visuais acabam ignorando sem dó alguma uma outra parcela
importante da população: os deficientes auditivos. Na última semana, não por coincidência,
recebemos email de uma leitora surda que reclamava justamente da oferta cada
vez menor de cópias legendadas que permitiam sua ida às salas de exibição -
sendo que, pela própria natureza do Cinema, faz infinitamente mais sentido
facilitar o acesso dos deficientes auditivos aos filmes em tela grande do que o
dos deficientes visuais. Sim, seria ótimo se todos pudessem ser atendidos -
mas, repito, a solução para os deficientes visuais reside não na dublagem, mas
na audio-descrição.
3) Pobrezinhos dos
dubladores! Você quer tomar o ganha-pão da categoria? Além disso, temos os
melhores dubladores do mundo!
Jamais questionei a
competência de nossos dubladores - ao contrário: em várias ocasiões, afirmei
que temos, sim, alguns dos melhores profissionais do ramo. Além disso, em
vários textos elogiei os trabalhos de figuras como Guilherme Briggs e Garcia
Junior, chegando até mesmo a publicar um texto defendendo a reserva de mercado
para os profissionais do ramo, que vêm perdendo papéis para "celebridades"
de maneira vergonhosa. Porém, por mais que reconheça o talento destes
profissionais, há algo que, por melhor que sejam, eles jamais conseguirão
contornar: o fato de que a dublagem, por natureza, distorce, deforma e
prejudica a obra de arte original - especialmente tratando-se de longas
envolvendo atores de carne-e-osso (explicarei as razões a seguir).
Além disso, não se
preocupem com os dubladores: o que não falta a eles é trabalho. Séries de tevê,
animações (para cinema e televisão) e praticamente todas as produções lançadas
em home video contam com suas versões dubladas - e jamais me coloquei contra a
opção de que estas trilhas em português façam parte dos discos. Aliás, o que
ocorre é justamente o contrário: como um número cada vez maior de projetos vem
recebendo versões dubladas, o que ocorre é uma verdadeira enxurrada de
trabalhos, obrigando os estúdios de dublagem a se desdobrarem para atender a
demanda - o que resulta em uma qualidade cada vez mais duvidosa das trilhas em
português.
Aliás, aproveito para
reafirmar o cinismo daqueles que defendem a dublagem usando a desculpa do
"mercado de trabalho dos dubladores": por que não se manifestam com
relação aos salários dos professores? Ou dos médicos da rede pública? Ou dos
garis? Vocês realmente acham que convencem alguém com este falso altruísmo?
Menos hipocrisia, por favor.
4) As legendas
"atrapalham" o filme.
Deixei este
"argumento" por último por considerá-lo o mais estúpido de todos. Em
primeiro lugar, o óbvio: então as legendas atrapalham a apreciação do filme,
mas ouvir uma voz completamente diferente da original e em absoluta falta de
sincronia com os movimentos labiais é algo que não incomoda? Mesmo? Há quem
realmente seja capaz de alegar que a legenda seja uma distração maior do que a
dublagem, do que ouvir, sei lá, o Bruce Willis falando com sotaque paulista e
dizendo "Pombas!"?
Sinceramente, eu poderia
encerrar por aqui, mas irei além: só se atrapalha com a legenda quem não tem o
hábito da leitura. (Antes que alguém cite os deficientes visuais: ler item 2.)
Meu filho Luca, que tem apenas oito anos de idade, já vem assistindo a filmes
legendados há pelo menos um ano - e com cada vez mais naturalidade e
facilidade. Assistiu a Harry Potter 7.2 nada menos do que quatro vezes nos
cinemas e, em todas as ocasiões, em sua versão legendada - por opção. Também
conferiu desta maneira O Planeta dos Macacos e uma infinidade de outros títulos
em DVD e blu-ray - de Quanto Mais Quente Melhor a Banzé no Oeste, passando por
Assassinato por Morte, Star Trek e a série Alien. E riu, sentiu medo e
aproveitou cada filme ao máximo, sem se importar com as legendas.
Aos oito anos de idade.
Ora, sou um pai coruja como
qualquer outro, mas jamais me atreveria a dizer que Luca tem superpoderes que o
tornam mais apto a ler legendas do que espectadores com 15, 20, 30 ou 40 anos
de idade.
O mesmo vale para mim: não
apenas leio as legendas como faço anotações durante os filmes - e qualquer um
que leia meus textos será obrigado a reconhecer que, concordando ou não com o
que escrevi, sou suficientemente capaz de absorver o que está na tela a ponto
de citar exemplos específicos de movimentos de câmera, cortes, detalhes de
fotografia, gestos de atores e assim por diante. E, sim, leio as legendas mesmo
quando domino a língua original (se estiver assistindo a um filme brasileiro
com legendas em português, não consigo evitar acompanhá-las).
Assim, quando ouço/leio
alguém dizer que as legendas "atrapalham" a compreensão do filme ou a
plena "apreciação das imagens", imediatamente faço uma anotação
mental e coloco a pessoa na prateleira daquelas que simplesmente não têm o
hábito da leitura e que, por preguiça intelectual, querem obrigar todo o resto
da população a abandonar as letras. Quer defender a dublagem? Ao menos use uma
desculpa que não denuncie algo triste sobre seus hábitos culturais.
Repito: oito anos de idade.
No entanto, não sou
simplesmente contra a dublagem; sou também entusiasmadamente a favor da
manutenção da língua original nas produções de cada país. E por algumas razões
fundamentais:
1) A qualidade técnica:
Faça um teste: ao assistir
a um filme dublado que traga parte do áudio original (numa canção ou através de
personagens que conversam numa língua diferente daquela usada pelo
protagonista), feche os olhos e preste atenção no som. Percebeu a diferença?
Claro que sim. Aliás, você teria percebido mesmo ao manter os olhos abertos, já
que a disparidade é gigante.
Isto se deve a uma questão
técnica tão importante para o Cinema que a Academia criou uma categoria
especial para premiá-la no Oscar: a da mixagem de som (ou Melhor Som).
Cada filme envolve, em sua
pós-produção, um trabalho árduo e extremamente detalhista de combinação das
diversas trilhas que trazem os vários elementos sonoros da produção: os
diálogos, os ruídos, as trilhas incidentais e instrumentais e até mesmo o som
ambiente, do silêncio, de cada set. Esta mixagem requer um estudo delicadissimo
do nível preciso de cada faixa em cada segundo de projeção - um trabalho que,
nas versões dubladas, tem seu equilíbrio arruinado quando os estúdios
brasileiros atiram uma destas faixas fora para substituí-la pela versão em
português.
Não acredita? Então coloque
um DVD no seu player e repasse cenas inteiras em suas versões originais e
brasileiras; se não perceber a diferença gritante da mixagem em cada uma delas,
consulte urgentemente um otorrino.
2) A suspensão da
descrença:
Já é suficientemente
difícil, para o espectador, aceitar Ryan Reynolds como um patrulheiro espacial
que, graças a um anel presenteado por um alienígena moribundo, torna-se capaz
de viajar pelo universo e de criar objetos a partir de energia verde enquanto
veste um collant digital. No entanto, somos capazes de comprar estes absurdos
na maior parte do tempo graças a um contrato psicológico que firmamos com cada
filme: o da suspensão da descrença. Basicamente, nos dispomos a aceitar os
absurdos atirados em nossa direção a fim de que sejamos capazes de mergulhar na
história - mas pedimos, em troca, que as produções mantenham seus artifícios
intactos para que nada nos traga de volta à realidade durante a experiência.
E é por isso, por exemplo,
que somos imediatamente atirados para fora da narrativa quando vemos o boom
(microfone) no alto da tela, já que este é o equivalente de receber um tapa no
rosto e ouvir um grito de "Isto é só um filme, idiota!". (A
propósito: em 99% das vezes que isto acontece, o erro é do projecionista;
reclame com o gerente da sala para que a janela de projeção seja ajustada
corretamente e o boom fique fora de quadro.)
Agora imaginem ouvir Bill
Murray abrindo a boca apenas para ouvirmos a voz de Wesley Snipes. Que é a
mesma de Will Smith. Que é idêntica à de Kevin Spacey. Que também sai da
garganta de Samuel L. Jackson. Que a divide com Danny Glover, Alfred Molina, Ed
Harris e Denzel Washington. (No caso, todos dublados por Márcio Simões.) Ou o
que dizer da experiência de ouvir Bruce Willis se comunicando com a mesma voz
durante anos apenas para, subitamente, descobri-lo com um som completamente
diferente a partir de 2006, quando seu dublador oficial (Newton da Matta)
faleceu?
Mais: confesso ter mais
facilidade em aceitar Schwarzenegger matando 270 pessoas com um único tiro do
que ouvi-lo soltando um "Seu filho da mãe!", um "Ora,
bolas!" ou mesmo um "Mermão" carioquíssimo enquanto pratica seu
genocídio particular. Isto para não mencionar o fato óbvio de que as palavras
que saem de sua boca são completamente destoantes de seus movimentos labiais,
ressaltando de maneira inegável a irrealidade do que está ocorrendo na tela.
Aliás, este é um "detalhe" (e coloco entre aspas por ser tudo, menos
um "detalhe") tão importante que os animadores dedicam centenas de
horas de trabalho cuidadoso à ilustração de cada fonema empregado pelos
dubladores de seus personagens - justamente para que, mesmo acompanhando as
aventuras de um panda ninja, não questionemos por que seus lábios não seguem os
sons emitidos por sua boca.
E a dublagem em outra
língua diferente da original simplesmente mata este esforço e dificulta
exponencialmente a tão importante suspensão da descrença.
3) O trabalho do ator:
Atuar é criar um
personagem. Isto envolve um profundo trabalho de composição e estudo envolvendo
meses de pesquisas, ensaios, laboratórios e tentativas para que o intérprete
descubra não só a psicologia de seu personagem, mas também a maneira com que
este se move, gesticula e... fala. Ouçam, por exemplo, o registro rígido, duro,
da voz de Meryl Streep em Dúvida e comparem-no à leveza de sua expressão vocal
em Mamma Mia! ou ao pedantismo escutado em O Diabo Veste Prada. Tentem
dissociar o professor Snape da dicção venenosa, estudada, calculada, empregada
por Alan Rickman na série Harry Potter. Percebam como Sean Penn, em Milk, exibe
uma afetação milimetricamente estudada em seus diálogos, ocultando-a quando seu
personagem quer passar uma imagem mais séria para a mídia e o eleitorado.
Assista ao clímax de Coração Satânico e tente ignorar a rouquidão desesperada
de Mickey Rourke.
Agora ouça as versões
dubladas e perceba a disparidade provocada pela diferença entre os meses
dedicados pelos atores originais aos seus personagens e as poucas horas (se
muito!) que os dubladores brasileiros tiveram para gravar seus diálogos.
Se ainda assim você
mantiver que a dublagem não deturpa a obra, então não precisa de um otorrino,
mas de um psiquiatra.
Aceitar a dublagem é
aceitar pegar todo o trabalho de composição de um ator, selecionar uma parte
fundamental deste e atirá-la fora, substituindo-a por um elemento criado sem
estudo, sem cuidado e com pressa. É dizer que não há problema em se alterar as
cores de Lição de Anatomia, de Rembrandt, ou de O Grito, de Munch, desde que os
"desenhos" sejam mantidos na íntegra. Ora, nenhuma forma de arte
seria submetida a uma deturpação destas - e perceber que algo assim é visto com
naturalidade no Cinema é uma prova inconteste da persistente falta de prestígio
e respeito que a Sétima Arte enfrenta desde seus primórdios.
É por esta razão, também, que
considero as dublagens de animações como algo um pouco mais fácil de aceitar:
afinal, ali estamos substituindo todo o trabalho de um ator pelo de outro. Sim,
na maior parte das vezes o cuidado na composição não é o mesmo (Luciano Huck
gravou todo o seu péssimo trabalho em Enrolados em apenas 4 ou 5 horas), mas ao
menos não temos um resultado digno do monstro de Frankenstein. (Sim, ainda há a
questão dos movimentos labiais, mas considerando toda a artificialidade da
própria técnica, que foge do realismo, é um problema menor.) Já aceitar a
dublagem em produções com atores de carne-e-osso (live action) é, por todas as
razões descritas acima, algo que considero inadmissível em alguém que realmente
ama Cinema.
E aí mantenho o que já
escrevi neste blog e no twitter tantas vezes: você pode até gostar de ver
filmes, mas se defende a dublagem - sinto muito -, não pode afirmar que ama a
Sétima Arte. Uma coisa é precisar do áudio alternativo (como no caso de
crianças pequenas ou de indivíduos com problemas visuais); outra é dizer que o
prefere. Se prefere, má notícia: você não apenas não ama o Cinema como ainda o
prejudica.
Ir ao cinema para ver um
filme em tela grande é um gesto de amor ao Cinema. E perceber que as
distribuidoras brasileiras querem afastar este público das salas é algo
deprimente - e pior: contando, em seu crime contra a Sétima Arte, com a
complacência do público. A ideia é simples: "lancemos muitas cópias
dubladas; eles podem até não gostar, mas pagarão o ingresso assim mesmo".
A saída? Quando a cópia for dublada, boicote o filme. Busque a versão legendada
ou espere pelo DVD/Blu-ray. Acredite: conferir a cópia dublada é o mesmo que
comer carne estragada apenas para dizer que foi a um churrasco.
Diga "não" à
dublagem nos cinemas. A Sétima Arte merece seu apoio.
Pesquisadores da University College London, em Londres, ensinaram um computador a jogar Civilization, a partir do manual de instruções.
O game de estratégia não foi dominado pelo "computador inteligente", mas foi aprendido de forma eficiente. A taxa de vitórias da máquina aumentou de 46% para 79% em pouco tempo. Mas como isto foi possível?
A coisa começou do zero e logo foi evoluindo bem a partir de uma programação realizada pelos pesquisadores. O computador simplesmente pesquisava termos sobre a jogabilidade no manual de instruções e ligava com ações dentro do jogo a partir de algoritmos específicos.
Inicialmente, os atos do computador dentro do jogo foram completamente aleatórios, mas logo as coisas começaram a fazer sentido, quando as palavras apareciam na tela e eram utilizadas a partir de instruções.
Mas há algo curioso nessa história. Se você parar pra pensar: o computador venceu partidas contra... o computador? TIME PARADOX.
Comece a contar os dias para o fim do mundo, HAL-9000, John Connor, Cylons, entre outros.
Falando sério, é um passo grandioso para a informática. É o primeiro registro da inteligência artificial de uma máquina realizando uma ação totalmente autônoma, sem scripts, sem programação; o computador de fato aprendeu de maneira "consciente". Ainda a passos lentos, a inteligência artificial um dia poderá ser tão comum na vida das pessoas que não nos surpreenderemos se ao chegar em casa diremos boa noite ao computador da casa e ele nos responda de maneira consciente, conversando. Poderemos pedi-lo para acender as luzes, ligar o som e programar o horário de um programa na TV. O computador de fato terá o controle da casa. No setor automobilístico temos atualmente carros que se guiam sozinhos por meio de GPS e trilhas eletromagnéticas, mas logo o computador de bordo será consciente, inclusive fazendo sugestões ao motorista. Esse é o futuro, minha gente. Agora John Connor terá que voltar do futuro para nos salvar logo logo. uhauhauhauha.
A polêmica persegue "A Serbian Film - Terror Sem Limites" há tempos. Exibido com estrondo em festivais internacionais, proibido na Espanha, banido da Noruega e picotado pela censura britânica, tem provocado burburinho onde quer que chegue. No Brasil, não foi diferente: a pedido do patrocinador, saiu na semana passada da programação do festival RioFan. Depois, teve sua pré-estreia proibida por uma juíza no sábado passado (23 de julho). Não só isso: a única cópia do filme em película está apreendida, nas mãos da Justiça do Rio.
"Serbian Film" não é uma produção qualquer. Conta a história de um ex-ator pornô que sai da aposentadoria para um último trabalho, bem remunerado, com a promessa de transformar pornografia em arte. Mas, nas mãos de um diretor enlouquecido, a tarefa vira um show de horrores – tortura e violência dão o tom, mas a gota d'água para muitos é o estupro de um recém-nascido.
O diretor sérvio Srdjan Spasojevic, 35 anos, reagiu com um misto de desapontamento e resignação ao rumo do caso no Brasil. "É muito difícil para mim. Acho extremamente estúpido, idiota e está ficando muito, muito, chato", disse, referindo-se à rotina de proibições enfrentada pelo filme.
Spasojevic afirma que o filme tem caráter "alegórico e político". Ele e o roteirista Aleksandar Radivojevic pretendiam "fazer apenas uma crítica à sociedade e às atrocidades enfrentadas pela Sérvia em sua história recente".
"Queríamos mostrar com honestidade sentimentos profundos sobre a nossa região e o mundo em geral. Na vida real, sentimos que nosso dia-a-dia é tratado como pornografia. O personagem do ator pornô é uma metáfora para qualquer trabalhador explorado por seus chefes ou pelos governantes do sistema – cantor, padeiro, seja o que for."
Segundo ele, não havia a intenção premeditada de chocar nem de fazer um filme de terror – considera "Serbian Film" um "thriller dramático". "Sabíamos que tínhamos um filme forte, mas filmar era mais importante, sem pensar no público ou na bilheteria."
Sobre as inúmeras cenas violentas, Spasojevic defende-se: "Não é um documentário e nem quero concorrer a presidente, mas precisava tratar do que sinto ao meu redor e do que vivi, especialmente nos Bálcãs, com as guerras na Iugoslávia, o bombardeio da OTAN... Não é nada inspirador para coisas bonitas."
Até mesmo o envolvimento de crianças e o alardeado estupro do récem-nascido, diz, são "desenhos" de seus sentimentos. "Considero muito, muito importante. É quase como dar um testemunho do que aconteceu comigo. Não fisicamente, mas do quão profundamente os sentimentos humanos podem ser violados - e colocar o público nesses lugares."
Para o cineasta, não é um filme para quem busca diversão: "Se você procura uma comédia romântica ou algo só para entretenimento, não veja. É uma lembrança das coisas ruins que acontecem ao nosso redor".
Depois de ter sido vetado do festival RioFan, festival de cinema fantástico do Rio ocorrido na semana passada, "A Serbian Film" iria ser exibido em uma sessão especial em outro cinema, o Odeon, na noite de sábado (23). Mas na véspera, Raffaele Petrini, responsável pela distribuição do longa no Brasil, foi informado que um advogado do DEM e um oficial de justiça estavam na porta de sua sala para apreender os negativos.
A dupla executava liminar de uma ação civil pública expedida pela 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio. O processo havia sido ajuizado pelo escritório regional do DEM, segundo o qual o filme faria "verdadeira apologia à prática de crimes contra as crianças" e "fomento à pedofilia".
Em seu despacho, a juíza Katerine Jatahy Kitsos Nygaard afirma que "não se pode admitir que, em favor da liberdade de expressão, um pretenso manifesto político exponha de tal forma a degradação do ser humano a ponto de violar um recém-nascido".
O advogado do DEM carioca, Victor Travancas, afirmou que, por conta do tempo hábil para elaborar o processo e impedir a exibição, não assistiu a " Serbian Film" - assim como a juíza.
"Não se viu o filme e nem precisava", disse César Maia, ex-prefeito do Rio e integrante do DEM. Segundo ele, foi feita uma "varredura" na imprensa nacional e estrangeira. O material foi compilado pelo partido e entregue à magistrada, que concedeu a liminar. "Um filme que mostra cenas de horror sexual está claramente proibido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 241. Quem proíbe é a lei em defesa da família e de seus valores."
Na opinião de Raffaele Petrini, o caso abre um precedente em relação à liberdade de expressão no país. "Já tinha se tornado um ato de protesto, mais do que uma exibição comercial de um filminho de terror. Hoje é isso, depois pode ser uma peça, um livro." Ele criticou o fato de os envolvidos não terem assistido a "Serbian Film". "É um ato de estupidez intelectual. Ninguém sai falando mal de alguma coisa que não viu."
O distribuidor de "A Serbian Film" afirma que nenhuma criança foi exposta à violência durante as filmagens – o recém-nascido seria um robô e o restante das cenas de violência, resultado de truques de edição e efeitos especiais.
A Petrini Filmes vai recorrer da decisão para tentar a liberação de "A Serbian Film" no Rio de Janeiro, embora o filme já tenha recebido a classificação etária de 18 anos do Ministério da Justiça, que não pode proibir uma produção ou exigir cortes.
A data de estreia, inicialmente prevista para o dia 5 de agosto, foi alterada para 26 de agosto. Até lá, diz Petrini, a distribuidora pretende rever contatos com os cinemas interessados em exibir o longa e refazer a estratégia, se concentrando, por exemplo, em sessões especiais noturnas.