segunda-feira, 23 de março de 2009

Nomes Estranhos Registrados em Cartório

Há quem se sinta um pouco deprimido quando pensa no nome incomum que ganhou ao nascer. Garanto que tais pessoas (e conheço muitas) deveriam se dar por satisfeitas ao encontrar essa preciosa lista de nomes estranhos registrados em cartórios, com assinatura do tabelião e tudo.
Ah, lembro que o novo código civil permite a troca do nome quando esse causa alguma situação vexatória ou simples desconforto à pessoa. Mas antes da lei, era muito comum os escrivãos grafarem o nome da mesma forma com que o tal foi pronunciado, até com exigências ortográficas dos pais, ou ainda confiantes na "sensatez" dos escrivãos de antigamente os pais lhes deixavam a responsabilidade de confirmar o nome. Os nomes foram coletados a partir de listas públicas, como uma relação de segurados com nomes estranhos divulgada pelo extinto INPS na década de 80, e pesquisas em cartórios realizadas por autores de livros especializados. Mas sem demoras vamos à lista.
Ah, fico feliz se quiserem acrescentar ainda mais nos comentários.


Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de Almeida,
Abxivispro Jacinto,
Acheropita Papazone,
Adalgamir Marge,
Adegesto Pataca,
Adoração Arabites (masculino),
Aeronauta Barata,
Agrícola Beterraba Areia Leão,
Agrícola da Terra Fonseca,
Alce Barbuda, Aldegunda Carames More (masculino),
Aleluia Sarango,
Alfredo Prazeirozo Texugueiro,
Alma de Vera,
Amado Amoroso,
Amável Pinto,
Amazonas Rio do Brasil Pimpão,
América do Sul Brasil de Santana,
Amin Amou Amado,
Amor de Deus Rosales Brasil (feminino),
Anatalino Reguete,
Antônio Americano do Brasil Mineiro,
Antonio Buceta Agudim, Antonio Camisão,
Antonio Dodói,
Antonio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado,
Antonio Melhorança,
Antônio Morrendo das Dores,
Antonio Noites e Dias,
Antônio P. Testa,
Antonio Pechincha, Antônio Querido Fracasso,
Antonio Treze de Junho de Mil Novecentos e Dezessete,
Antônio Veado Prematuro,
Apurinã da Floresta Brasileira,
Araci do Precioso Sangue,
Argentino Argenta,
Aricléia Café Chá,
Armando Nascimento de Jesus,
Arquibaldo Nana do Mercado,
Arquiteclínio Petrocoquínio de Andrade,
Asteróide Silverio,
Ava Gina (em homenagem a Ava Gardner e Gina Lolobrigida),

--------------------------------------------------------------------------------
Bananéia Oliveira de Deus,
Bandeirante do Brasil Paulistano,
Barrigudinha Seleida,
Benedito Autor da Purificação,
Benedito Camurça Aveludado,
Benedito Frôscolo Jovino de Almeida Aimbaré Militão de Souza Baruel de Itaparica Boré Fomi de Tucunduvá,
Benigna Jarra, Benvindo Viola,
Bispo de Paris,
Bizarro Assada, Boaventura Torrada,
Bom Filho Persegonha,
Brandamente Brasil,
Brasil Washington C. A. Júnior,
Brígida de Samora Mora Belderagas Piruégas,
Bucetildes (chamada, pelos familiares, de Dona Tide),

--------------------------------------------------------------------------------
Cafiaspirina Cruz,
Capote Valente e Marimbondo da Trindade,
Caius Marcius Africanus,
Carabino Tiro Certo,
Carlos Alberto Santíssimo Sacramento Cantinho da Vila Alencar da Corte Real Sampaio Carneiro de Souza e Faro,
Caso Raro Yamada,
Céu Azul do Sol Poente,
Chananeco Vargas da Silva,
Chevrolet da Silva Ford,
Cincero do Nascimento,
Cinconegue Washington Matos,
Clarisbadeu Braz da Silva,
Colapso Cardíaco da Silva,
Comigo é Nove na Garrucha Trouxada,
Confessoura Dornelles,
Crisoprasso Compasso,

--------------------------------------------------------------------------------
Danúbio Tarada Duarte,
Darcília Abraços de Carvalho Santinho,
Deus Magda Silva, Deus É Infinitamente Misericordioso,
Deus Quer Magalhães Mota,
Deusarina Venus de Milo,
Dezêncio Feverêncio de Oitenta e Cinco,
Dignatario da Ordem Imperial do Cruzeiro,
Dilke de La Roque Pinho,
Disney Chaplin Milhomem de Souza,
Dolores Fuertes de Barriga,
Dosolina Piroca Tazinasso,
Drágica Broko,

--------------------------------------------------------------------------------
Ernesto Segundo da Família Lima, Esdras Esdron Eustaquio Obirapitanga,
Esparadrapo Clemente de Sá,
Espere em Deus Mateus,
Estácio Ponta Fina Amolador,
Éter Sulfúrico Amazonino Rios,
Excelsa Teresinha do Menino Jesus da Costa e Silva,

--------------------------------------------------------------------------------
Faraó do Egito Sousa,
Fedir Lenho,
Felicidade do Lar Brasileiro,
Finólila Piaubilina,
Flávio Cavalcante Rei da Televisão,
Francisco Notório Milhão,
Francisco Zebedeu Sanguessuga,
Francisoreia Doroteia Dorida,
Fridundino Eulâmpio,

--------------------------------------------------------------------------------
Gerunda Gerundina Pif Paf,
Gigle Catabriga,
Graciosa Rodela D'alho,

--------------------------------------------------------------------------------
Heubler Janota,
Hidráulico Oliveira,
Himineu Casamenticio das Dores Conjugais,
Holofontina Fufucas,
Homem Bom da Cunha Souto Maior,
Horinando Pedroso Ramos,
Hugo Madeira de Lei Aroeiro,
Hypotenusa Pereira,

--------------------------------------------------------------------------------
Ilegível Inilegível,
Inocêncio Coitadinho,
Isabel Defensora de Jesus,
Izabel Rainha de Portugal,

--------------------------------------------------------------------------------
Jacinto Fadigas Arranhado,
Jacinto Leite Aquino Rego,
Janeiro Fevereiro de Março Abril,
João Bispo de Roma, João Cara de José,
João Cólica,
João da Mesma Data,
João de Deus Fundador do Colto,
João Meias de Golveias,
João Pensa Bem,
João Sem Sobrenome,
João Suíno de Oliveira,
Joaquim Pinto Molhadinho,
José Amâncio e Seus Trinta e Nove,
José Casou de Calças Curtas,
José Catarrinho,
José Machuca,
José Maria Guardanapo,
José Padre Nosso,
José Teodoro Pinto Tapado,
José Xixi,
Jovelina Ó Rosa Cheirosa,
Jotacá Dois Mil e Um,
Juana Mula, Júlio Santos Pé-Curto,
Justiça Maria de Jesus,

--------------------------------------------------------------------------------
Lança Perfume Rodometálico de Andrade,
Leão Rolando Pedreira,
Leda Prazeres Amante,
Letsgo (de Let's go),
Liberdade Igualdade Fraternidade Nova York Rocha,
Libertino Africano Nobre,
Lindulfo Celidonio Calafange de Tefé,
Lynildes Carapunfada Dores Fígado,

--------------------------------------------------------------------------------
Magnésia Bisurada do Patrocínio,
Manganês Manganésfero Nacional,
Manolo Porras y Porras, Manoel de Hora Pontual,
Manoel Sovaco de Gambar,
Manuel Sola de Sá Pato,
Manuelina Terebentina Capitulina de Jesus Amor Divino,
Marciano Verdinho das Antenas Longas,
Maria Constança Dores Pança,
Maria Cristina do Pinto Magro,
Maria da Cruz Rachadinho,
Maria da Segunda Distração,
Maria de Seu Pereira,
Maria Felicidade,
Maria Humilde,
Maria Máquina,
Maria Panela, Maria Passa Cantando,
Maria Privada de Jesus,
Maria Tributina Prostituta Cataerva,
Maria-você-me-mata,
Mário de Seu Pereira,
Meirelaz Assunção,
Mijardina Pinto,
Mimaré Índio Brazileiro de Campos,
Ministéio Salgado,

--------------------------------------------------------------------------------
Naida Navinda Navolta Pereira,
Napoleão Estado do Pernambuco,
Napoleão Sem Medo e Sem Mácula,
Natal Carnaval, Necrotério Pereira da Silva,
Novelo Fedelo,

--------------------------------------------------------------------------------
Oceano Atlântico Linhares,
Oceano Pacífico,
Olinda Barba de Jesus,
Orlando Modesto Pinto,
Orquerio Cassapietra,
Otávio Bundasseca,

--------------------------------------------------------------------------------
Pacífico Armando Guerra,
Padre Filho do Espírito Santo Amém,
Pália Pélia Pólia Púlia dos Guimarães Peixoto,
Paranahyba Pirapitinga Santana,
Pedra da Penha,
Pedrinha Bonitinha da Silva,
Pedro do Cacete da Silva,
Percilina Pretextata Predileta Protestante,
Peta Perpétua de Ceceta,
Placenta Maricórnia da Letra Pi,
Plácido e Seus Companheiros,
Pombinha Guerreira Martins,
Primeira Delícia Figueiredo Azevedo,
Primavera Verão Outono Inverno,
Produto do Amor Conjugal de Marichá e Maribel,
Protestado Felix Correa,

--------------------------------------------------------------------------------
Radigunda Cercená Vicensi,
Remédio Amargo,
Renato Pordeus Furtado,
Ressurgente Monte Santos,
Restos Mortais de Catarina,
Rita Marciana Arrotéia,
Rolando Caio da Rocha,
Rolando Escadabaixo,
Rômulo Reme Remido Rodó,
Safira Azul Esverdeada,

--------------------------------------------------------------------------------
Sansão Vagina,
Sebastião Salgado Doce,
Segundo Avelino Peito,
Sete Chagas de Jesus e Salve Patria,
Sete Rolos de Arame Farpado,
Simplício Simplório da Simplicidade Simples,
Soraiadite das Duas a Primeira ,

--------------------------------------------------------------------------------
Telesforo Veras,
Terebentina Terepenis,
Tospericagerja (em homenagem à seleção do tri: Tostão, Pelé,
Tropicão de Almeida, Última Delícia do Casal Carvalho,
Rivelino, Carlos Alberto, Gerson e Jairzinho),

--------------------------------------------------------------------------------
Último Vaqueiro,
Um Dois Três de Oliveira Quatro,
Um Mesmo de Almeida,
Universo Cândido,
Usnavy (em homenagem à U.S.Navy, a Marinha Americana),

--------------------------------------------------------------------------------
Valdir Tirado Grosso,
Veneza Americana do Recife,
Vicente Mais ou Menos de Souza,
Vitória Carne e Osso,
Vitimado José de Araújo,
Vitor Hugo Tocagaita,
Vivelinda Cabrita,
Voltaire Rebelado de França,
Wanslívia Heitor de Paula, Zélia Tocafundo Pinto.

quinta-feira, 19 de março de 2009

E o cinema de Formosa? Onde estão os grandes filmes?

Nossa, nem acredito. Já vai fazer um mês que o Oscar passou, fizeram o maior hippe com os filmes indicados e... só foi exibido aqui em Formosa o Cavaleiro das Trevas. Pergunto: até quando vamos ter que aguardar pela boa vontade do cinema local em exibir os indicados Quem Quer Ser Milionário?, O Curioso Caso de Benjamin Button, Milk, O Lutador, O Leitor ou Dúvida?
Todo mundo cria muitas expectativas nesses filmes, mesmo que não sejam lá tudo isso. Porém, não dá para entender por que raios um filme tão bossal quanto Se Eu Fosse Você 2 fica em cartaz quase 3 semanas. Quando o Cine Premier retornou a Formosa sabia que os filmes não seriam exibidos na suas datas de estréia. Sei que quase todos vêm reciclados de Brasília, mas ainda assim fiquei muito contente porque assistir um longa metragem numa sala de cinema é outra coisa. Mesmo que o som não seja surround ou a imagem acabe pipocada pelo desgaste da fita. Só não entendo por que exibir filmes dublados (nossa, assisti Crepúsculo assim)e ainda por cima esquecer de longas tão importantes.

Ainda espero pelo dia em que Formosa ainda terá filmes exibidos nas datas de circuito nacional e com duas salas, para que o público tenha escolha.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Cabeça Dinossauro! Cabeça Dinossauro! Cabeça, Cabeça, Cabeça Dinossauro!



Há algum tempo alguns alunos meus me fez recordar um ótimo álbum do Titãs através de um trabalho de Língua Portuguesa. Trata-se do fabuloso disco Cabeça Dinossauro.
O LP foi um marco no ano de seu lançamento, 1986. Claro que eu nem conhecia o álbum na época, pois ainda era uma criança birrenta e sem tipo. Mas muuuuitos anos depois descobri as músicas. Na verdade, lembro vagamente dos meus tios escutarem músicas como "Bichos" e "O Que". O Titãs passava por uma fase de acerto com respeito ao som. O aspecto eclético e pop deu lugar ao mais puro punk rock. O disco todo parece até uma ópera rock (não, não existem cantores líricos na ópera rock. Esse termo é usado quando um disco gira em torno de um tema apenas, como se fosse um livro). É evidente que o som mais duro explorado pela banda foi impulsionado pelas letras tenazes que denunciavam os aspectos mais brutais e selvagens que residia no homem. Mesmo no alge da civilização, não abandonamos nossas peculiaridades mais primitivas. Tudo isso está na sonoridade das músicas, onde a bateria explora as batidas dos tambores e das letras literalmente gritadas.

Mais que tudo isso, Cabeça Dinossauro desmistifica as relações entre as pessoas e denuncia a hipocrisia. Não é um álbum fácil de ouir, pois é duro em denunciar a vilania da sociedade. No entanto é muito fácil gostar (que paradoxo mais louco), pois a banda trata tudo com certo humor e bastante disposição.

Todas as músicas giram em torno dos aspectos primitivos do ser humano, a linguagem e os compromissos em "AA UU", os laços fraternos em "Família", o capitalismo selvagem em "Homem Primata", a imposição da ordem em "Estado Violência" e até a renúncia em se apegar a mitos cristãos em "Igreja". Aliás, essa última música é a única que não costumo escutar. Podem me chamar de quadrado ou puritano, mas acho a letra muito forte para quem tem certo apego religioso. Até mesmo o Arnaldo Antunes saía do palco em shows por não concordar com a música. Mas de modo geral, Cabeça Dinossauro mostra a ousadia da banda e o talento de cada um.

Quem não conhece ainda esse trabalho dos Titãs deve dar chicotadas nas costas e tomar banho em sal grosso. Calma, calma! Estava só brincando. Na real, todos devem conhecer esse importante disco. Quem achar que sonoramente parece ultrapassado pode procurar pelo disco "Ao VIVO MTV" que traz muitas faixas com um som mais atual.
Se as bandas de rock de hoje fossem tão criativas e ousadas quanto o titãs dos anos 80, com certeza não teríamos que aguentar versinho pé-de-chinelo de *coof* NX-Zero ou *coff coff* Fresno.

Boa música a todos.

terça-feira, 17 de março de 2009

Trava-Línguas

Quem nunca se enrolou com um trava-línguas? Seguem alguns para vocês se divertirem.

Teto limpo, chão sujo


Farofa feita com muita farinha fofa faz uma fofoca feia.

Tinha tanta tia tantã.
Tinha tanta anta antiga.
Tinha tanta anta que era tia.
Tinha tanta tia que era anta.

Disseram que na minha rua
Tem paralelepípedo feito
De paralelogramos.
Seis paralelogramos
Tem um paralelepípedo.
Mil paralelepípedos
Tem uma paralelepípedovia.
Uma paralelepípedovia
Tem mil paralelogramos.
Então uma paralelepípedovia
É uma paralelogramolândia?


Três tigres tristes para três pratos de trigo.
Três pratos de trigo para três tigres tristes.

Se o bispo de Constantinopla

a quisesse desconstantinoplatanilizar

não haveria desconstantinoplatanilizador

que a desconstantinoplatanilizaria

desconstantinoplatanilizadoramente.

La vem o velho Felix com o fole velho nas costas.

Tanto fede o velho Felix, quanto o fole velho nas costas do velho Felix, fede


Xuxa! A Sasha fez xixi no chão da sala.


Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que não sabemos, ambos saberemos se somos sábios, sabidos ou simplesmente saberemos se somos sabedores.


Perlustrando patética petição produzida pela postulante, prevemos possibilidade para pervencê-la porquanto perecem pressupostos primários permissíveis para propugnar pelo presente pleito pois prejulgamos pugna pretárita perfeitíssima.

Heath Leadger - Tributo ao Melhor Joker

Há tempos devo uma homenagem ao vencedor do Oscar e Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante do ano. Heath Ledger morreu no ano de 2008, devido a uma superdosagem de comprimidos, antes mesmo da estréia de Batman - O Cavaleiro das Trevas.

A performance impressionante de Ledger lhe rendeu a estatueta com honras. Ainda acreditei que a academia não fosse condecorá-lo, uma vez que a mesma se posiciona de maneira cética com respeito a filmes que exploram o universo da fantasia ou do surreal. O Coringa de Heath Ledger impressionou a todos pela imponência de suas ações, a genialidade dos diálogos e pelo aspecto psicótico empregado pelo ator. Diferente do que fez Jack Nicholson, o Coringa do filme de Tim Burton, Ledger abandonou o ar caricato e descontraído, herança da antiga série Batman nos anos 70, para entrar na psiquê atormentada do personagem das grafic novels. Seu olhar atormentado, os trejeitos perturbadores e a mania de sentir o corte nos lábios pela língua tornaram o Coringa o grande personagem do ano de 2008. E não falo como admirador apenas, mas acompanho a crítica de especialistas em cinema. O ator já fora indicado por O Segredo de Brockback Mountain, pelo excelente papel como o caubóu Ennis del Mar. Já fez papel de adolescente em 10 coisas que eu odeio em você e até cavaleiro em disputas de justas em Coração de Cavaleiro. Heath Ledger sem dúvida tinha uma carreira promissora. Perde muito o cinema com a morte deste jovem ator.
A quem não assistiu O Cavaleiro das Trevas, fica a dica. É um filme imperdível.
E palmas para Heath Ledger.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Midway Pede Falência









A produtora de games Midway, respónsável por jogos como São Francisco Rush e o megasucesso Mortal Kombat, entrou com pedido de falência. A crise financeira amarga já há algum tempo as produtoras desse seguimento, e a primeira a sofrer uma real baixa foi a empresa americana. Segundo a Midway, seu último lançamento, Mortal Kombat Vs DC Universe, foi um sucesso absoluto, vendendo cerca de mais de 2 milhões de cópias. Porém não foi suficiente para cobrir as dívidas já acumuladas no último ano fiscal. Em novembro de 2008 o magnata Summer Redstone vendeu 87% de sua participação na empresa para outro grupo por uma bagatela.
Uma pena, pois embora não fosse uma produtora símbolo desse seguimento, tinha participação efetiva e lançamentos interessantes.
Espero que a crise enfrentada pelas sothouses não seja semelhante ao ano de 1984, onde houve um crash no setor, com empresas em crise, falências e títulos escassos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Ivete Sangalo, amante do cinema?





Ontem assisti parte da entrevista da cantora de axé no Jornal Hoje da rede Globo e fiquei estarrecido com a seguinte declaraação: "Adoro cinema, sou apaixonada por cinema, mas odeio ler, não consigo me concentrar". Isso me fez levantar sérias afirmações.

Hoje é muito fácil se dizer amante do cinema. Assiste-se meia dúzia de filmes pipocas pelo DVD (quase todos repletos de barulho, efeitos especiais, dramas pastelões ou piadas de mal gosto), decora-se o nome de 2 ou 3 diretores e pronto! Está aí uma pessoa admiradora da sétima arte.

Cabe aqui esclarecer que amantes de filmes existem muitos, amantes de cinema são poucos. Os primeiros são aqueles que encaram cinema como entretenimento quase que integralmente. São aquelas que assistem casualmente a um bom número de filmes, mas filmes de circuito comercial ou recentemente em evidência. O outro grupo não apenas assiste a flmes, mas discute, estuda, analisa, tem um olhar analítico para o cinema tal qual o curador de um museu tem para as telas. O amante do cinema adora filmes pipoca (para entretenimento quase que totalmente), mas prefere as preciosidades que se enquadram como arte. Comove-se com um filme de Steven Spilberg (talvez o diretor mais pop), mas também se rende aos planos-sequencia de Ingmar Bergman ou Werner Herzog.

Não faço julgamentos de valor tanto ao apreciador de filmes quanto o de cinema. O que tento deixar claro é que para ser realmente conhecedor de cinema é preciso que o apreciador esteja comumente em contato com outra atividade, a leitura. Filmes são uma linguagem artística que se vale de outras linguagens, entre elas a literária. E comumente, aqueles que apreciam cinema obviamente têm a leitura como uma atividade saudável, intelectual e prazerosa. Leitura é pré-requisito sim para se conhecer melhor o cinema. Dessa forma, Ivete Sangalo não apenas transmite uma péssima imagem aos jovens de que o caminho para o sucesso não necessariamente envolve o esforço intelectual, como também equivocadamente se enche de orgulho ao dizer que adora uma atividade que obviamente desconhece. O cinema de verdade talvez seja um mundo obscuro para a cantora, que prefere apenas produções fáceis que anestesiam o cérebro.

De uma coisa não podemos duvidar: a cantora tem muita coragem. Coragem de admitir em público sua bossalidade frente ao intelecto. Admitir que não gosta de ler em rede nacional é demais.

Rede Globo - Inimiga do Oscar









Sou incondicionalmente fã da sétima arte e acompanho a premiação do Oscar desde 1991, quando tinha 10 anos, e ainda lembro, embora muuuuuuuuuito vagamente, de comentários sobre o filme premiado, Dança com Lobos. De como o filme tinha baixo orçamento, foi falado pela língua original dos sioux e etc.
Hoje, crescido, não vejo o Acadamy Awards (nome orgininal da entrega do Oscar) como uma celebração à arte, como via de forma romântica no passado; mas ainda é muito divertido e interessante assistir à "festa" da academia.

Mas chega de nostalgia e divagações sobre a importância do evento. O fato é que em muitos anos assisti à premiação pela Rede Globo de televisão. E sim, fui testemunha de horrores como os comentários infundados e rançosos de Arnaldo Jabor (que se acha grande cineasta) e da falta de experiência e comentários esdrrúxulos de José Wilker. Pior do que isso, fiquei várias vezes vermelho de raiva quando domingo à noite a Globo se gabava ao transmitir a entrega da estatueta, mas a transmissão só começara de fato depois do Fantástico, Big Brother e o que mais havia na programação. Assim, quando a emissora transmitia a apresentação, lá vinha a jornalista dizer que já havia sido entregue 3 ou 4 prêmios.

Dei graças a Deus todas as vezes em que a apresentação passou para as mãos do SBT. Ao menos a emissora do Baú transmitia no horário e sem cortes, e ainda tínhamos como comentarista Rubens Ewald Filho, que se não era perfeito (ainda dói na gargante ele ter falado que Chicago deveria ganhar o Oscar porque há muito tempo um musical não ganha)ao menos era melhor que os outros citados. Há muito a Globo tenta ganhar de volta os direitos de transmissão do evento, e em 2009 ela volta a transmitir. Ou quase, ela têm os direitos, mas não vai transmitir.

Como é isso? É isso mesmo que você leu. A rede Globo conseguiu os direitos de transmissão do Oscar, mas a premiação será no próximo domingo, dia 22. Neste domingo será carnaval, e a emissora vai transmitir o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. E o Oscar? Bem, a premiação do Academy Awards vai ficar para trás. Uma vez ou outra a Globo vai passar informações da entrega, mas transmiti-la, isso não.

Agora vejam o quanto os responsáveis por essa emissora são verdadeiros canalhas. Obviamente eles já sabiam da data de entrega do prêmio e a coincidência com o carnaval. O mais sensato seria que cedessem a transmissão a outra emissora, por meio de um acordo com os anunciantes, ou simplesmente cedesse os direitos por ÉTICA E RESPONSABILIDADE COM O PÚBLICO BRASILEIRO, como tanto destacam em seus informes. Mas não, a Globo prefere manter os direitos sobre os Academy Awards e se dá ao direito de engavetar a transmissão. Não estou aqui defendendo que a entrega do Oscar seja melhor que o carnaval. O fato é que há pessoas que gostam de assistir os desfiles e outras que, apaixonadas pelo cinema, esperam a muito pelo evento nos EUA. Sabendo-se que é a única emissora de canal aberto que poderia transmitir a entrega da estatueta, mas não vai fazê-lo devido seus interesses com os patrocinadores (anunciantes de cerveja principalmente) que pagam mais, não há interesse algum aqui com o telespectador. Assim, ela não vai transmitir o Oscar e quem tem canal aberto que se contente em não ver a entrega em canal nenhum. É ou não é de ficar p da vida com uma coisa dessas. 300 polegares para baixo para essa emissora do cão.

A solução? hum! Ainda há a transmissao pela TV por assinatura. Mas não são todos que possuem tv paga, e a melhor das alternativas é assistir pelo canal TNT. Seguindo o mote da Rede Globo, é melhor que os amantes do cinema passem a gostar de muito batuque e mulheres seminuas, pois ano que vêm, se depender dela, o Oscar pode mais uma vez ser ofuscado pela cretinice das organizações Roberto Marinho.

Para aqueles que nunca acompanharam a festa, fica a dica de que é um evento interessantíssimo. Talvez não seja possível torcer por algum indicado, uma vez que os melhores filmes acabaram de chegar ao circuito nacional, e obviamente não chegaram aqui em Formosa. Mas é um ótimo evento para contemplar, mesmo de forma nostálgica, o cinema internacional.


Bom Oscar para alguns e guerra à Rede Globo.

Billy Elliot



Billy Elliot - Crítica



Billy Elliot
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: Lee Hall
Gênero: Drama
Origem: EUA/Inglaterra
Ano: 2000






Há um problema muito sério em alguns longas com respeito à temática ou protagonização infanto-juvenil: acreditar que crianças ou adolescentes são bobos. Não é o caso deste Billy Eliot. Embora a história trate da vida de um garoto de 11 anos de idade, em nenhum momento ela nos soa falsa ou artificial. Também não há espaço para um universo banal ou ações e diálogos verdadeiramente estúpidos, como acontece na maioria desses filmes.

Billy é um garoto de 11 anos que cansado das aulas de boxe como opção desportiva na escola pública de uma cidadezinha no interior da Inglaterra, passa observar com notória curiosidade as aulas de balé que momentaneamente foram ministradas no mesmo ginásio. Convidado pela professora Wilkinson a participar, o garoto tem uma experiência primeiramente desconfortável, mas ainda assim fascinante. Descobre então que seu modo desajeitado para o pugilismo é compensado pelo talento na dança sem que ainda saiba realmente o que é o balé. Billy não pensa em nada quando dança, como afirma numa cena posterior. Ele apenas dança, sente como se desaparecesse, como se fosse eletricidade pura, nas palavras do próprio Billy. Isso nos leva a entender o porquê da motivação do menino pela dança. Não há desejo artístico, vontade racional ou mesmo apoio familiar. Billy apenas dança, como se os movimentos do balé fossem sua válvula de escape para o mundo complicado em que vive. Somente com o passar do tempo o jovem percebe que dançar está além de impelir o corpo a cumprir uma tarefa, Billy então passa a entender que o balé é uma experiência transcendental, além do que a razão pode explicar, mas ao mesmo tempo é alvo de contemplação para aqueles que assistem e que seu talento não pode ser desperdiçado.


Para seguir com os estudos de dança, Billy Elliot deverá enfrentar muita resistência. A primeira delas é consigo mesmo. Vivendo num ambiente bastante patriarcal e de valores muito machistas, o garoto custa a aceitar a própria vontade de ser bailarino, o que o leva a problemas sobre a sexualidade. Billy não tem qualquer problema com a homossexualidade do seu colega, Michael, embora não o entenda. E a todo custo, quer deixar claro que não é homossexual por causa do balé. Billy não enfrenta qualquer problema sobre sua sexualidade, é na verdade um garoto heterossexual que veementemente não aceita o preconceito quanto àqueles que fazem balé. Mas sem perceber, ele mesmo, indiretamente, nutre preconceito. Numa audiência numa escola de dança em Londres, Billy sente que não foi bem no teste. E ao voltar cabisbaixo ao vestiário é consolado por um outro menino, e quando este lhe encosta a mão no ombro, Billy lhe desfere um soco e diz: “não encoste em mim, sua bicha louca”. Há aí um leve sinal de homofobia (apenas com os garotos que dançam) por parte do jovem, a violência é sua resposta àqueles que acreditam que todos os meninos que fazem balé são gays, sem saber que o primeiro a ser dominado por essa idéia é o próprio bailarino.


Billy vive com seu pai Jackie e seu irmão Tony, além da avó, e consegue esconder de todos que faz aulas de dança. O pai e o irmão de Billy são mineiros na cidadezinha onde vivem e estão em greve. É aí que está o núcleo dramático da obra. Enquanto o filho caçula tem aulas de dança, os outros dois homens mantêm trabalhos muito viris e são os que sustentam a casa. E optando por trabalhar um tema pouco explorado no cinema inglês, a luta dos trabalhadores, o roteirista Lee Hall e o diretor Stephen Daldry (que agora é sensação com seu último filme, O Leitor) são muitos competentes ao mostrar a vida dos operários ingleses que são oprimidos pelos donos dos meios de produção. Não é à toa que ambos foram indicados ao Oscar. O filme prima por um roteiro competente e uma direção segura. Michael e seu pai fazem parte dos trabalhadores que montam piquetes em frente à entrada das minas onde trabalham e enfrentam não só a resistência dos patrões que não entram em acordo com o sindicato e usam a polícia como força de opressão, como também os colegas pelegos que enfraquecem o movimento. Como falei, são ousados o roteiro e a direção, mesmo que o confronto de classes não seja o tema principal, mas importante elemento para a narrativa. Ainda mais se considerarmos que o tema é atípico ao cinema inglês. E a greve é responsável pela cena mais bonita do filme, protagonizada pelo pai e o irmão de Billy, que discutem o movimento grevista e os sacrifícios feitos. Como professor da rede estadual de ensino, devo dizer que falta a muitos colegas a coragem para assumirem a condição de trabalhadores. Como se não houvesse mais motivos para lutar por direitos. Como se estivéssemos fadados a aceitar duras condições de trabalho que o Estado nos impõe. Momentos como esse no longa, devem soar como um tapa na cara dos insossos “trabalhadores” que não assumem compromissos com a categoria. Nesse aspecto, o filme de Stephen Daldry em nenhum momento parece cínico ou romântico. Como a família passa por muitos problemas financeiros, o jovem Billy vê a música como escape e contenção de sua violência.


Billy Elliot não é um filme de interpretações intensas ou técnica refinada. É um filme que poderia estar muito próximo do cinema pipoca, não fosse seu roteiro repleto de temas que podem ser comuns na vida de um garoto, mas tabus para o cinema comercial. Não raro Billy tem de lidar com temas que não são tratados de forma pueril pela direção, tais como a homossexualidade do amigo, o alcoolismo do marido da Sra. Willkinson, conversas sobre sexualidade com uma amiga do balé, violência urbana, frustração profissional e exploração dos trabalhadores. Tudo isso sem máscaras, mas sem nenhuma cena que mostre algo chocante ou que tenha um tratamento mais duro. Tudo muito natural, como a maioria de nós lida no dia a dia. Jamie Bell interpreta o menino que dá título ao filme de forma muito competente, mas distante de performances de outros atores de sua idade. Ainda assim, o ator consegue conquistar-nos não por rompantes interpretativos, mas pela identificação com um menino comum, que reage de forma muito pueril com situações que não está acostumado, como o momento em que no carro da professora de balé e esta lhe diz que quer ajudá-lo a continuar os estudos. E Billy, sem entender o porquê de sua professora insistir em apoiá-lo, pergunta: “Sra. Willkinson, a senhora não está a fim de mim, está?” Uma cena que também revela os momentos de um sutil humor inglês no longa. Interpretação marcante realmente temos com o veterano Gary Lewis como o pai de Billy. Sempre de olhar penetrante e voz impositiva, o ator imprime uma figura paterna bastante exigente e segura. Não chega a ser autoritário, mas exerce a autoridade de pai como deve ser. Também não é de todo obtuso, embora admita não entender nada além do que conhece.


Engana-se quem acredita que Billy Elliot é um filme sobre o balé. A temática principal é com certeza sobre as relações entre o menino e as descobertas de um novo mundo, principalmente em torno da relação entre pai e filho. Os momentos que antecedem esse momento, em específico, são prelúdios para tal. Embora tão divergentes em opiniões e atitudes, notamos em muitos pontos as semelhanças entre ambos. Tudo em volta cria um universo que deve ser filtrado pelo menino, um mundo cheio de tabus e idiossincrasias. Alguns chegam a reclamar da falta de emoção em alguns momentos no filme. Eu diria que foi um opção acertada, já que me parece muito mais com uma frase de Roger Walters, “it’s the english way”; é o jeito de ser dos britânicos. Pontuais e precisos, mas excessivamente sistemáticos a ponto de não serem emotivos. Não espere por artifícios já batidos em tantos filmes sobre dança, como o uso de câmera lenta. Repito que o filme usa o balé como alegoria para tratar dos “ritos de passagem” de um menino de 11 anos. A trilha sonora se vale de temas musicais dos mais inusitados, desde o Lago dos Cisnes a London Calling do The Clash; opção acertada já que o embate entre a violência pulsante do garoto se contrasta com os movimentos sutis do balé.


Billy Elliot não é um filme de técnica apurada ou de um roteiro magnífico,, embora merecedores da indicação ao Oscar, mas é competente o bastante ao criar personagens com quem nos identificamos facilmente e passamos a nos importar com tais. Mais do que isso, o garoto Billy Elliot é a porção de talento latente em cada um de nós que deseja encontrar o caminho da descoberta, mas que por vicissitudes diversas não pôde achar ecos de admiração nos apreciadores da arte. Billy Elliot é a representação do sonho de cada um quando era criança em se tornar grande.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Crepúsculo (Twilight) - Crítica

Crepúsculo


(Twlight)
Direção: Catherine Hardwick
Roteiro: Melissa Rosenberg
Gênero: Romance
Origem: EUA
Ano: 2008

É sempre complicado analisar um filme quando há um hyppe enorme sobre ele, ainda mais se considerarmos que se trata de uma adaptação de um best seller juvenil. Ou se espera uma boa adaptação, como foi Harry Potter, ou o completo desastre, como essa adaptação de Twilight.

Antes quero dizer que não li o livro, portanto vou limitar meus comentários sobre a história baseado no roteiro do filme, esperançoso de que o livro ao menos seja mais denso e interessante. Bella Swan é uma jovem que acabara de se mudar para a pequena cidade de Forks e logo se torna popular e faz alguns amigos, embora seja pouco comunicativa e emocionalmente fria. A garota vê-se então envolvida pelo pálido e misterioso Edward Cullen, mesmo que este apresente certa antipatia. Através de alguns acontecimentos, Bella acaba por descobrir que o rapaz é na verdade um vampiro. Edward é do tipo "bonzinho", incapaz de ferir a moça, embora deseje muito provar do sangue dela. Igualmente inofensiva é a família do rapaz, formada pelo médico e sua esposa (ambos vampiros) que adotam outros vampiros mais jovens. Depois de muita enrola, o casal começa a se envolver; e quando estão mais a vontade um com o outro surge a ameaça de um grupo de vampiros que deseja o sangue da garota.

A primeira falha de Crepúsculo é evidentemente seu roteiro capenga. Durante metade da projeção os personagens são apresentados no melhor estilo High School Musical/Malhação. Personagens insossos e muito mais preocupados com a aparência que seus conflitos pessoais (conflitos? espere, personagens desse tipo não têm grandes conflitos internos) infestam os corredores do colégio da cidadezinha. Eles entram e saem de cena sem qualquer marca de personalidade, durante muito tempo pensei estar asisstindo a um clip musical, mas sem música. Até mesmo os personagens principais são pouco interessantes. Bella é meramente uma pessoa que se relaciona bem com os amigos sempre brincalhões; mas ela, parece muito mais careta. Demonstra um fascínio inexplicável pelo morto-vivo, mesmo sem entendermos por quê; nem adianta a velha máxima de amor à primeira vista, um argumento extremamente simplório, já que a moça parece pouco se importar com isso durante as primeiras cenas. A inquietação dela antes de um acidente que a faz pesquisar mais a fundo o rapaz não é plausível. Edward também é pouco inspirador. Não se relaciona com ninguém, não demonstra qualquer particularidade que o torna interessante, além da palidez e do ar antissocial. O mais incrível é que isso deveria levar as pessoas a investigar o jovem e sua família, mas a projeção nos mostra todos os moradores de Forks como verdadeiros débeis-mentais que não ligam para os membros esquálidos da família de Edward. Somente Bella demonstra o mínimo de inteligência e curiosidade em saber mais sobre eles.

Algumas particularidades do roteiro também demonstram a mesma falta de inteligência da roteirista Melissa Rosenberg tal qual as personagens. Essa história da família de vampiros mudar-se para uma cidade pequena onde poucas vezes a luz do sol aparece entre as pesadas nuvens não convence. Afinal, Forks não é o Pólo Sul, e a fotografia do filme é bastante iluminada, embora o aspecto nublado. E que escolha estúpida é essa? Será melhor mesmo viver numa cidade pequena, onde os olhares de todos estão ao redor e as pessoas se metem nas vidas uns dos outros? Ou uma cidade grande é ideal, onde ninguém se importa com ninguém? Por que Edward não consegue ler a mente de Bella? O filme nunca explica. E o que há de diferente no cheiro dela? Feromônio intenso, será? Por que precisam ainda estudar? Edward tem mais de 80 anos, está fadado a ser um adolescente a vida inteira, e não mostra nenhum sinal de revolta ou tristeza em nunca poder atingir a maioridade física. Algo que poderia deixar o personagem tridimensional.

Há momentos hilários em Crepúsculo, como o instante em que um rapaz descendente dos povos "indígenas lupinos" afirma que fizeram um acordo com os vampiros de que não contariam o segredo destes se eles deixassem suas terras, só para momentos depois vermos que uma livraria indígena tem um exemplar sobre vampiros provavelmente escrito pelos descendentes da tribo. Diálogos constrangedores também abundam no filme: - "Nós só bebemos sangue de animais, por isso nos chamamos de vegetarianos"; claro o sangue dos animais é feito de clorofila, e as vacas são hematófagas. Também pérolas como quando Bella é levada por Edward ao topo de uma enorme árvore através do "voo" do vampiro, e incrédula diz: "eu não acredito". Mesmo que antes a moça tenha aceitado sem relutância a declaração de Edward de que era um vampiro de força descomunal, velocidade supersônica e pele de diamante.

A direção de Catherine Hardwick é pífia tanto em composição de planos quanto na condução dos atores. Demonstrando total inabilidade para criar uma cena de romance memorável (ou pelo menos bonita o bastante para enfeitar os trailers), ela desperdiça momentos como o passeio nas árvores ou o enquadramento superior quando o casal está deitado sobre a grama, que poderiam ser sem sombra de dúvidas o esperado momento do beijo. No entanto a diretora prefere enrolar o espectador colocando a ação momentos depois no quarto de Bella. Obviamente a decisão do primeiro beijo acontecer no quarto da moça, de forma afoita, nada convicente e sem ao menos um enquadramento interessante se deu porque a diretora pretende agradar ao público adolescente (meninas) que preferem sonhar com o vampiro envolvendo seu corpo no lugar onde elas dormem. É uma imagem icônica, um símbolo, atende sexualmente ao público; mas é pessimamente trabalhada. Chega a ser tão imbecil que quando Edward beija e agarra a garota, lança-se em seguida contra a parede, temendo que pudesse fazer algum mal a Bella. E segundos depois, deita-se ao lado dela, bem próximo ao pescoço; uma cena quase risível.

O que dizer dos atores? Bem, Crepúsculo é cheio de talentos desperdiçados e atuações medíocres. Alguns até demonstram completo desconforto com a câmera, jamais se tornando convincentes. Kristen Stewart (Bella) é apática e inexpressiva. Embora sua presença no filme seja marcante pela feição do seu rosto triste, jamais temos prova de que Bella seja uma personagem interessante. É inexplicavelmente ridícula a tentativa de se empregar drama no instante em que Bella cria uma discussão com o pai. A atuação da moça não convence e a ação parece deslocada; foi a coisa mais burra do mundo a garota voltar a casa do pai para instantes depois ir embora com uma justificativa no mínimo pueril. Robert Pattinson desenvolve seu personagem com tamanha mediocridade que só temos a impressão que ele é um vampiro por causa da maquiagem. Pior ainda, um vampiro adolescente de muitas décadas que não possui qualquer ambição, desafeto, tristeza, desatino ou luta pessoal. Edward Cullen é praticamente um boneco animado que se apaixona por Bella. O personagem jamais aparenta qualquer sinal de perigo ou frenesi vampírico, mesmo contra seus inimigos. Seria interessante na obra se Edward se demonstrasse alguma ameaça a Bella, tal qual o monstro que ele diz ser; e a jovem vencesse o medo que temos do personagem através da conquista e confiança. Ei, espere! Mas não era esse o argumento do filme, identico por sinal ao relacionamento de A "Bella" e a Fera"? Sim, mas a direção do filme e a mediocridade do ator principal acabam por minar a história. Há cenas tão mal dirigidas que chegam a ser constrangedoras. Reparem a cena quando um colega de Bella conta a verdade sobre a família de Edward quando estão na praia. Há uma brincadeira estúpida com o que parece ser uma cobra, realmente desconfortável para os atores que fazem qualquer coisa. E o momento em que Edward se declara para Bella? Quando o rapaz diz: - "Você é como uma heroína feita para mim" dá vontade de rir.

A parte técnica do longa também não é das melhores. Efeitos especiais datados parecem ter saído de uma série americana como Smallville, tamanha a falta de criatividade em aproveitar as habilidades vampíricas. Me veio à mente cenas interessantes com peripécias das criaturas da noite em outros longas; como o ator que sobe pelas paredes de um túnel em Entrevista com o Vampiro ou o conde Vlad que faz emergir sua sombra que toca os objetos em Drácula de Bram Stoker. E o que há de interessante nas cenas que demonstram as habilidades do vampiro nesse Crepústulo? Hum, deixa eu ver... uma pobre partida de baseball muito mal fotografada, com relâmpagos e saltos no ar, tal qual uma partida de quadriball. Se serve de consolo, o figurino dos adolescentes farão a cabeça de muita gente e a trilha sonora não é das piores, embora careça de um tema principal.

Agora o mais triste de Crepúsculo pode não apenas estar no rotero do flme, mas também na obra de escritora Stephenie Meyer, o completo desprezo pela "mitologia vampírica". Eles são considerados criaturas da noite, mas em Crepúsculo preferem o dia. A luz do sol não os fere, mas revela a pele brilhante como uma joia. Não temem qualquer símbolo religioso ou alho. Parecem realmente felizes, embora sua natureza seja vil e a solidão deveria ser a companheira. Nem mesmo presas os vampiros de Crepúsculo tem. Ora, com um punhado de habilidades interessantes e quase nenhuma fraqueza, qual a desvantagem de ser um vampiro? Em outras obras a solidão, o peso dos anos numa juventude eterna, a autocondenação por viverem de sangue humano ou apenas a dor de nunca mais ver a luz do sol marcam os vampiros como criaturas muito poderosas mas extremamente infelizes. Em Crepúsculo temos a impressão de que o vampirismo não só é a fonte da juventude mas o encontro com a fórmula da felicidade. Annie Rice também desmistificou as criaturas em Entrevista com o Vampiro, mas nos apresentou seres tão tridimensionais em suas dores, angústias e dependências que os mitos religiosos nem se fazem necessários. Crepúsculo nos traz vampiros prontos para trabalharem num comercial de margarina: família feliz reunida ao redor da mesa, embora mais pálidos que o habitual.

O embate final do filme é fraco, e o momento em que a família de Edward aparece (quase fazendo pose) me lembrou a série Power Rangers, faltando apenas a apresentação de cada um e a coreografia. Nos momentos finais notamos com maior carga a falta de empatia entre os atores; Edward não mostra nenhum gesto de carinho ou expressão veridicamente afetuosa para com Bella, que também não tem um olhar apaixonado, mas o mesmo olhar triste e distante de sempre. O que poderia ser uma cena comovente no baile se torna apenas alívio para o espectador cansado. Ainda bem que a diretora Catherine Hardwick não trabalhará no próximo projeto programado para ano que vem. Mas sinceramente, o elenco também poderia não retornar também. Na verdade, é bom que encontrem sérios motivos para uma sequência. Ah, isso eles tem: mais adolescentes na sala de cinema enchendo os bolsos dos produtores, mais preocupados com o rosto dos jovens atores que com suas fracas perfórmances. Crepúsculo prova que o sangue de Bella pode ser poupado, mas o nosso não.

Maus Hábitos - Crítica

Maus Hábitos
Entre Tinieblas / Dark Habits / Dark Hideout
Gênero: Comédia
Origem / Ano: ESP/1983
Tipo: Longa-Metragem
Duração: 107 min
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Cristina Sánchez Pascual, Julieta Serrano, Marisa Paredes, Mary Carrillo e outros.


Pedro Almodóvar é hoje considerado um dos melhores diretores a explorar na tela todo o lado feminino. Variando do sutil ao excêntrico, o cineasta consegue criar atmosferas únicas em seus filmes ao concentrar em suas lentes o belíssimo, complexo e singular universo feminino, e não me refiro aqui a apenas mulheres, mas qualquer pessoa que seja altamente envolvido por esse círculo, como maridos, filhos e até transexuais. Não foge ao olhar de Almodóvar nem mesmo uma das mais emblemáticas figuras do nosso mundo, as freiras. Essas mulheres, conhecidas principalmente por sua missão de renúncia a uma vida material enquanto abraça um matrimônio espiritual e tarefas humanitárias, sempre foram mitificadas pelas vidas que levam. Afinal, é no mínimo misteriosa a dedicação diária delas em ajudar o próximo abrindo mão de conquistas naturais ao ser humano, principalmente o amor idílico. Fora tudo isso, pouco percebemos que debaixo do véu tratam-se de mulheres comuns, seres humanos apenas, que embora levem uma vida de disciplina e renúncia, sentem os mesmos temores e passam pelos mesmos anseios. É assim que acompanhamos a vida das freiras do convento das "redentoras humilhadas", sem qualquer cliché, sem qualquer iconoclastia ou fundamentalismos.

Yolanda Bel, uma cantora de cabaré, vê sua vida de cabeça para baixo quando o namorado morre de overdose. Completamente desamparada, sem norte na vida, procura ajuda no convento das redentoras humilhadas após a visita da madre superiora no seu camarim. Admiradora fervorosa do trabalho marginal de Yolanda, a irmã passa a ajudar a cantora a encontrar sentido na sua vida dentro do convento, no dia a dia das freiras, na meditação, trabalho e dedicação espiritual. O convento já foi abrigo para muitas mulheres desamparadas, de vidas extremamente difíceis. Muitas foram as cafetinas, as drogadas, as prostitutas e até assassinas que lá se refugiaram para tentar encontrar um norte na vida. Agora, porém, o convento já não recebe tantas mulheres, já não se ouvem mais os cantos e as conversas daquelas que procuravam consolo. Os tempos mudaram, como atesta a amiga de uma das freiras, e a vida atrás das paredes do convento não permitiu a elas perceber que já não são mais o principal meio de ajuda para mulheres que se encontram em crise. Assim, quando Yolanda Bel procura ajuda à madre, esta última sente novamente esperança em ver o convento cheio de garotas e senhoras carentes de ajuda. Como as freiras acreditam na humilhação para edificação espiritual, elas se dão nomes bastante "impróprios", assim, passamos a acompanhar o dia a dia da irmã Esterco, irmã Perdida, irmã Víbora e irmã Rata de Esgoto.

O que é mais notável no longa é que as irmãs tinham raízes na vida libertina assim como as mulheres a quem ajudam, e como freiras, foram obrigadas a abdicar desse estilo de vida. No entanto, são muitos os "maus hábitos" que essas mulheres ainda mantém. É comum portanto encontrarmos uma irmã lendo contos eróticos, outra costurando roupas incomuns para as virgens, e até mesmo a madre superiora oferecendo cocaína à cantora refugiada em vez de livrá-la do vício. Desmascaradas aos olhos dos espectadores, as freiras e suas manias pouco comuns conduzem situações bastate divertidas, como a cena em que a irmã Esterco visita sua parente quando esta dá uma entrevista sobre sua carreira como escritora, ou quando as religiosas estão trabalhando numa feira de rua. São situações ligeiramente cômicas, de muita sutileza.

Ao longo da projeção percebemos o quanto o roteirista foi cauteloso em atribuir às freiras um intrincado jogo de idéias para que estas se auto-afirmassem como servas do senhor, mas com alguns deslizes permissíveis devido a suas naturezas humanas. Dessa forma, temos justificativas dígnas de um texto barroco, em que a lógica não se sobrepõe às palavras, como quando a madre superiora justifica porque ela continua a usar cocaína - "a cocaína é forte, assim como minha personalidade", ou como quando a mesma justifica porque ela é admiradora confessa de pessoas de vida tão leviana, de cantores de cabaré, dançarinas, atores e atrizes de segunda - "é no pecado dessas pessoas que Cristo morre e renasce a cada dia". Embora o diferencial do filme esteja no fato de se expor os maus hábitos do convento das redentoras humilhadas, jamais se faz qualquer julgamento das mesmas. Almodóvar prefere conferir uma imagem mais humana, do ponto de vista da imperfeição, a essas mulheres. Só assim podemos entender as dores de algumas delas, mesmo que sejam engraçadas algumas situações. Assim, o diretor jamais torna as personagens simples seres desprovidas de crises, nem as deixa se tornar caricaturas para o riso fácil. Antes, prefere conferir a cada uma das pessoas no convento uma altenticidade feminina, como de praxe em seus filmes. Depois do primeiro momento, em que olhamos para aquelas senhoras apenas como freiras, acompanhados do costumeiro espanto ao vê-las envolvidas em atividades tão pouco comuns, enxergamos em cada uma delas uma mulher de verdade, pessoas que não desvencilharam totalmente de seus vícios, mas que justificam os mesmos de alguma forma, ou se martirizam quando se trata de algo do qual não podem lidar. A figura mais forte do loga é com certeza a madre superiora. Com muita determinação, esta é capaz de usar quaisquer artifícios, mesmo os menos morais, para manter de portas abertas o convento que pode ser fechado pela ordem superior das irmãs. Ao mesmo tempo percebemos a dedicação desta para com Yolanda com um olhar não de amor solidário, mas de dedicação idílico-amorosa; como se Yolanda fosse sua janela para o mundo ao mesmo tempo que uma mulher atraente.

Volto a afirmar que o filme jamais trata as freiras de forma jocosa ou ironizadora. O objetivo de Almodóvar não era criar situações que coubessem julgamentos. Portanto o espectador deve se despir de qualquer preconceito ou opinião formada sobre a vida dessas mulheres. Não é um filme que faz qualquer crítica sobre a igreja, sobre a vida nos conventos, ou sobre os próprios vícios das irmãs. O que temos no longa é na verdade um tratamento mais feminino sobre as freiras, despido de qualquer exaltação religiosa. O importante não é julgar, mas entender e divertir-se com aquilo que imaginamos ser incomum.

Verdade seja dita: não espere risos fáceis em Maus Hábitos. O filme não é uma comédia excêntrica como os adolescentes acostumaram a ver nos anos 2000 com filmes de situações forçadas e personagens pouco convincentes. Estamos falando de Pedro Almodóvar, um brilhante diretor do cinema contemporâneo, portanto a obra conquista mais sorrisos que risos. Temos ao longo da projeção situações hilárias, mas tudo no seu devido comedimento. Fica ao final um gosto indefinível, de uma comédia meio triste, mas a sensação de um ótimo filme, conduzido com maestria sobre um tema bastante delicado. Não, não se trata da religiosidade, mas de outro tema ainda tão complexo quanto, embora também bonito e indecifrável, o universo feminino.

Meu Nome é Rádio - Crítica

Meu Nome é Radio (Radio, 2003)
Direção: Michael Tollin
Roteiro: ?
Gênero: Drama/Esporte
Origem: Estados Unidos
Duração:
109 minutos

por Alex Rocha

Não é de hoje que Hollywood explora a biografia de pessoas que superam certas diferenças ou deficiências para alcançarem seus objetivos. Há inúmeros exemplos que variam de autismo, do excelente Rain Man, à paralisia, do não menos brilhante Meu Pé Esquerdo. Afinal, heróis da vida real rendem boas histórias, e pegam o público desprevenido com cenas de forte apelo emocional. Assim pensou o roteirista de Meu Nome É Rádio; no entanto o resultado não é digno de comparação com os dois filmes mencionados.

Numa pequena cidade chamada Anderson, no sul dos EUA, vive um diretor de esportes e também técnico do time de futebol americano juvenil( Ed Harris). Durante os treinos este passa a notar a presença de um rapaz que apresenta comportamento introspectivo devido a sua deficiência mental( Cuba Gooding Jr), Ajudando o rapaz a vencer as dificuldades para se socializar e ter uma vida de rotina comum a qualquer pessoa, o técnico consegui inserir "Radio" na rotina do time e da escola.


Simples assim é o roteiro, e é aí que reside o maior problema do longa metragem. Se em Rain Man o personagem de Dustin Hoffman tem como meta cruzar o país com seu irmão Charlie para que este último feche um negócio; e em Meu Pé Esquerdo o personagem de Daniel Day Lewis tenta superar a perda dos movimentos do corpo para se tornar um pintor de talento; em Meu Nome é Rádio o personagem de Cuba Gooding Jr não tem qualquer meta definida, ou o técnico Jones que também não tem um norte. O próprio personagem diz que não sabe até onde vai sua insistência em ajudar o rapaz. Essa fala soa mais como uma desculpa esfarrapada do roteirista que não encontrou algo que realmente definisse a busca do técnico. Criar um roteiro a partir de uma biografia exige do escritor talento para focar a história da pessoa num certo drama pessoal que inclui obstáculos diversos ou ameaças constantes. Desde o início da projeção até o seu desfecho senti pela falta de qualquer ameaça que afastasse o personagem de seu objetivo. Uma falha muito grave, já que filmes como Uma Mente Brilhante usa até mesmo elementos da própria personagem como dificuldades sérias. O que seria a história de John Nash se sua esquizofrenia não fosse sua maior inimiga? Assim, não são necessários elementos fantasiosos ou alterações comprometedoras da fidelidade dos fatos para se criar uma boa história. Basta apenas um pouco mais de cuidado para com os elementos da narrativa.

O mesmo pode se dizer da direção insegura de Michael Tollin. Há bons momentos no longa, como as seqüências firmes dos momentos de natal, outras soam falsas e previsíveis como as cenas do técnico Jones com sua família. Além disso, o diretor tenta empregar vigor nas poucas cenas que oferecem qualquer desafio para o jovem James "Radio", mas falha pela falta de ritmo, como uma cena em que o jovem é preso injustamente, mas logo tem o conflito resolvido sem causar qualquer aflição ao espectador. As tentativas de se atribuir a um aluno e seu pai como adversários do técnico e de seu pupilo também são frustradas pela falta de ousadia da direção que parece negar as diferenças das pessoas no nosso mundo e conduz todos os personagens como sujeitos bons, compreensíveis e amáveis. Até mesmo o inspetor que faz visitas à escola em que o técnico James trabalha jamais tenta oferecer qualquer risco para as personagens envolvidas.

Meu Nome É Rádio não é um filme de todo ruim. Pelo contrário, diverte sem qualquer compromisso. É um filme "sessão da tarde" que cumpre seu papel de entreter sem grandes pretenções. Isso se deve principalmente pelo ótimo trabalho do ator Cuba Gooding Jr que vive um personagem que consegue cativar o público sem exageros ou trejeitos embaraçosos. Também está muito bem o sempre competente Ed Harris, com sotaque carregado do sul dos EUA, fazendo um técnico apaixonado pelo esporte, um ser humano preocupado com o próximo e ao mesmo tempo um pai e marido negligente. Se Harris acerta em criar dinamismo ao seu personagem, o mesmo não se pode falar do roteiro novamente, que vai do ingênuo ao estúpido. Não é plausível a explicação do porquê o técnico sempre ajudar Radio, assim como é péssima a forma com que a trama conduz a relação fria e distante do técnico com sua esposa e filha.

Como anteriormente, Meu Nome É Radio é um filque que se sustenta nos altos e baixos da direção e da boa performance dos atores. Não fosse pelo roteiro pobre e da falta de ousadia o filme poderia ser mais comovente e melhor. Assim, esse é só mais um entre tantos filmes de uma fórmula copiada à exaustão.

Os Infiltrados - Crítica


Os Infiltrados
(The Departed, 2006)


Direção:
Martin Scorsese
Roteiro: William Monahan
Gênero:
Drama/Policial/Suspense
Origem:
Estados Unidos
Duração:
152 minutos
Tipo: Longa

Às vezes é muito complicado não se deixar levar por opiniões formadas pela mídia em torno de um filme, ainda mais quando se trata do vencedor do Oscar de melhor filme em 2007. Felizmente, assisti aos Infiltrados quando este ainda não era tão "badalado", embora em sua estréia fora o filme de maior apelo publicitário do diretor Martin Scorsese, e o assisti novamente um ano depois de sua premiação no Oscar; ou seja, longe dos comentários de entusiastas do grande prêmio ou do apelo midiático. Nesse intervalo mantive a mesma opinião. Os Infiltrados é um bom filme e nada mais.

Acompanhamos nas mais de duas horas do longa os jovens Billy Costigan (Leonardo diCaprio) e Colin Sullivan (Matt Damon). Ambos se formaram na academia de polícia, o primeiro leva uma carreira difícil, quase no limite da sanidade; enquanto o outro tem uma ascensão incomum no emprego, logo começando a trabalhar como investigador. O policial Costigan é infiltrado na organização criminosa de Frank Costello (Jack Nicholson) para tentar desmantelar o grupo; enquanto o agente Sullivan é na verdade um membro da mesma organização infiltrado na polícia. A trama se desenvolva quando a polícia suspeita de um delator na corporação e ao mesmo tempo a organização criminosa de Costello acredita ter um "rato" no grupo.

O longa é uma refilmagem do filme Conflitos Internos (de Hong Kong, 2002), o qual não assisti. Escrito por Willian Monahan , que também escreveu o mediano Cruzada, Os Infiltrados tem como maior trunfo as situações de puro desconforto e sangue frio dos informantes, bem como as reviravoltas da trama. A câmera ágil de Scorsese acompanhada de uma trilha sonora alta e de apelo popular, conferem ação e boa dose de tensão, tudo com bastante equilíbrio, afinal trata-se de um filme policial, mas de um diretor que prima pelo trabalho psicológico de suas personagens. Assim, ficamos apreensivos quando um infiltrado tenta desmascarar o outro logo nas ruas depois de uma sessão de cinema, ou as cenas em que Costello tenta encontrar algo que denuncie Costigan, o policial disfarçado. São cenas tensas, repletas de situações angustiantes.

Mas o destaque vai realmente para os atores e a maneira como Scorsese conduz as personagens. Leonardo DiCaprio novamente faz um trabalho exemplar com o diretor, mesmo que não supere ainda seu trabalho em O Aviador. DiCaprio nos apresenta uma personagem que luta contra o estigma de viver sobre a marca de uma família envolvida com o crime, mesmo que tenha como exemplo moral o pai de reputação impecável. O ator consegue transmitir todo o stress da profissão e chega a desenvolver até mesmo sintomas de paranóia devido às pressões sofridas. O também talentoso Matt Damon convence como uma pessoa fria e calculista, incapaz de lidar com seus problemas emocionais, sempre fugindo de questionamentos morais e evitando os olhares analíticos da namorada, a psicóloga do filme. Jack Nicholson, por sua vez, intimida com seu olhar psicótico, lembrando muito seu personagem em O Iluminado. O diretor Martin Scorsese consegue magistralmente imprimir aos atores personagens bastante tridimensionais. Assim, ao longo da projeção nos identificamos logo com a luta e a dor do policial Costigan e torcemos para que este possa se sair bem. Bem como sentimos uma antipatia inevitável pelo policial Sullivan, que leva uma vida social invejável, mas sem quaisquer escrúpulos sobre seus métodos. Essa identificação com os personagens é realmente o elemento fucral para o bom andamento da narrativa em Os Infiltrados. Para se ter idéia da importância desse elemento, na direção de Scorsese em Gangs de Nova York não há a mesma identificação com as personagens. Lá o Amsterdan interpretado pelo mesmo Leonardo DiCaprio não consegue imprimir qualquer simpatia para com o espectador, assim, nos identificamos mais com o lado oposto, o vilão, interpretado por Daniel Day Lewis, que faz um açougueiro chamado Bill cheio de trejeitos e de discurso cheio de apelo. Aliás, o açougueiro Bill é o único personagem interessante em Gangs de Nova York, o que justifica a má recepção da crítica, embora a parte técnica do filme seja muito boa.

Mas como já citado, Os Infiltrados é um bom filme e só, pelos motivos que acabo de mencionar. Vindo de Martin Scorsese, era de se esperar mais, pelo menos do ponto de vista estético. Não há no longa cenas tão memoráveis, cheias de simbolismo ou mesmo revestidas do exercício estético do diretor como em outros filmes. Quem não se lembra da cena em que Travis Bickle de Taxi Driver faz pose em frente ao espelho? Ou Jake La Motta na cena inicial de créditos de Touro Indomável? Isso mesmo, Scorsese consegue criar cenas memoráveis até nas cenas de crédito de seus filmes. Apesar de um bom filme, Os Infiltrados não consegue criar em nosso imaginário uma cena sequer como inesquecível, embora todas sejam dirigidas com maestria. É um filme que ganha pelo conjunto da obra. Ademais, se observa no filme um tom exageradamente sexual (notem que diferente de sensual). Não raro se encontra personagens que falam a torto e direito sobre "comer", "dar" e outros impropérios. O diretor talvez tentasse imprimir um tom verborragicamente real de como é a vida dos criminosos e da polícia, repleto de um vocabulário sujo e de ações nada cheia de pudores, mas tudo soa pesado demais no filme. Durante a projeção o diretor incluiu até mesmo a imagem de um falo de borracha, bem explícito aos olhos do público.
Tudo isso causa um certo incômodo, como se deliberadamente alguém expusesse suas epifanias eróticas com a desculpa do compromisso com a realidade, digo isso sem quaisquer apegos com os pudores de nossa sociedade hipócrita. Também se nota no filme uma duração um pouco longa e um desfecho simplesmente decepcionante. Fica após os créditos finais um gosto de final feito às pressas, de impotência e desonestidade com o público que esperava mais do fim.

Após a premiação no Oscar, fico a me questionar se Os Infiltrados recebe a estatueta por falta de concorrentes ou pelo prêmio de consolação por Scorsese jamais ter ganho. Fato é que Os Infiltrados está longe de ser considerado melhor filme do ano, embora seja um bom filme. Pena que jamais vai figurar como magnum opus do diretor de Touro Indomável, Taxi Driver e A Última Tentação de Cristo. Talvez ainda se torne uma saudosa obra como Os Bons Companheiros ou Cassino. Um bom filme e nada mais.

O Hospedeiro - Crítica


O Hospedeiro - Crítica


Direção: Joon-ho Bong
Roteiro: Chul-hyun Baek, Joon-ho Bong, Won-jun Ha
Gênero: Ação/Comédia/Fantasia/Terror
Origem: Coréia do Sul
Duração: 119 minutos
Tipo: Longa


Simplesmente fabuloso é o resultado desse filme despretencioso e muito bem elaborado do sul-coreano Joon-ho Bong. Com uma história beirando filmes trash de mal gosto dos orientais, mas de direção firme, atores talentosos e diálogos interessantes, O Hospedeiro consegue agradar a todos os públicos, firmado nas suas diferentes modalidades narrativas.

Um cientisna norte-americano ordena despejar material tóxico num rio em Seul. Anos depois somos apresentados a Gang-du que trabalha com seu pai nas proximidades do rio vendendo comida num trailer. O jovem Gang-du, que aparenta ter baixo QI, espera pela filha Hyun-seo que retorna da escola e juntos vão assistir no trailer à compertição de tiro com arco e flecha do qual a tia é medalhista. Nesse ínterim, uma figura enorme e monstruosa emerge da água, uma criatura de aparência anfíbia que persegue a todos que passeavam no parque às margens do rio. Somos apresentados aí a uma das cenas mais espetaculares do cinema contemporâneo; pode acreditar, o efeito da cena é brilhante, com um ritmo rápido, visual limpo e planos de câmera bastante dramáticos . Primeiro o espanto e admiração do público pelo desconhecido, depois o pânico na perseguição. Entre feridos e mortos está a menina Hyun-seo, levada pelo monstro pelo rio e declarada morta pelo governo sul-coreano. O governo dos EUA declaram ainda que o monstro é hospedeiro de um vírus mortal, isolando a área próxima ao rio e obrigando a todas as famílias envolvidas no acontecimento no parque a permanecerem em quarentena, vigiados pelo exército. O mais impressionante é que Gang-du recebe uma chamada do celular da filha e agora acredita que ela esteja viva. Completamente ignorados pelo governo, a família decide se unir na busca pela menina.

Diferente de outros filmes que seguem o modelo de Tubarão, aumentando constantemente a tensão e o medo mostrando pouco da criatura e em momentos decisivos revelando-a, o diretor opta sempre por deixar em foco a criatura. Apresentado de forma muito convincente, o monstro não é um espetáculo da CGI como acontece com os arrasa-quarteirões americanos; mas é bastante convincente pelo tratamento das cenas. Com ângulos de câmera inusitados e até uso dramático do slow-motion Joon-ho Bong jamais se refreia de mostrar a criatura da maneira mais espetacular o possível. Assim, entendemos o pânico das pessoas e a tensão das cenas não apenas pela sugestão, o que é muito irritante em filmes que pouco mostram a ameaça, nem pela superexposição do ser, reurso que o banaliza e não consegue fazer dela uma ameaça por conta da previsibilidade. Inclusive o longa sul-coreano surpreende muito durante suas quase duas horas de projeção.

O filme ainda se consagra por misturar diferentes gêneros de forma muito equilibrada. Claro que o que predomina é o horror trash de ficção científica, mas são dignos de elogios os momentos de drama e de comédia. O drama da perda e da superação e esperança vivido pela família é realmente emocionante, há uma cena comovente em que Gang-du deve decidir-se em ficar ao lado do pai ou buscar a filha que traduz muito bem o dilema. Também a dor vivida pelas famílias que perderam seus entes queridos no ataque da criatura também é comovente. Mas o filme é repleto de momentos de humor, afinal de contas o longa não se pode levar a sério o tempo todo com um roteiro tão "B" como esse. São momento em que piadas bem sutis quebram o gelo da narrativa, muitos deles em momentos-chave, mas nada de piadas de mal gosto ou cenas deslocadas, tudo de forma sutil e no timming certo. Gags como o do coquetel Molotov nas cenas final conseguem ainda nos causar espanto e humor ao mesmo tempo. Mas sem dúvidas o que predomina é o clima tenso. Não só a caçada ao monstro que também caça as pessoas é bastante crível e inteligentemente assustadora, como os momentos de total impotencia das pessoas frente a agentes do governo céticos tornam-se momento de muito sangue-frio.

O filme ainda se destaca por apresentar de maneira bem inteligente temas de muita discussão na Coréia do Sul. Frente a uma ameaça desconhecida, o governo sempre espera apoio do EUA, assim como acontece com as políticas públicas daquele país, protestos e manifestações diversas refletem a animosidade do povo com governos totalitários, os jovens estudantes que mesmo qualificados na universidade não conseguem encontrar emprego, também discussões ambientais e ameaças biológicas. A direção jamais lança esses temas de forma aberta e explicita, sua função não é o engajamento, mas o cuidado com esses temas é tão grande que nos sentimos presos à reflexão diversas vezes. Os personagens são desenvolvidos de maneira muito inteligente. Após uma apresentação rápida dos intrépidos membros da família, ficamos envolvidos com a busca dos mesmos. São personagens que mesmo sem grande exploração de suas psiquês parecem bastante vivos e carismáticos. Como não se sentir envolvido pelo ar paternal e cuidadoso do patricarca da família? E a desilusão e desamparo do universitário que se encontra desempregado e sua irmã pouco confiante após a derrota numa competição nacional? E então nos identificamos ainda mais com a força e eterminação do jovem pai de Hyun-seo, que mesmo sem idéias brilhantes consegue driblar os agentes do governo, superando a exaustão para encontrar a filha.

Com um desfecho cheio de cenas inteligentes e muita competência técnica do ponto de vista visual e narrativo, O Hospedeiro é uma grata surpresa vindo do cinema Sul-Coreano, que parece viver um momento muito bom. Sem jamais cair de ritmo, com cenas de grande impacto de forte conteúdo emocioal, sem jamais parecer piegas, o filme ganha o espectador por um emaranhado de estilos, sem parecer confuso jamais e com muita competência, desde os trabalhos técnicos, como planos e ângulos de cãmera inusitados, como uma apresentação interessantíssima dos personagens.