segunda-feira, 5 de abril de 2010
Animals
E já que estamos falando sobre invasões de bois e cachorros, relembro aqui um dos melhores álbuns conceituais já lançado no mercado fonográfico, trata-se do disco Animals da banda britânica pink Floyd.
Muitíssimo apreciado no exterior e quase desconhecido aqui no Brasil, a não ser pelos fãs da banda, Animals foi lançado em 1977, após um dos melhores álbuns de todos os tempos, de acordo com a maior parte da crítica musical em todo o mundo, Dark Side of The Moon, e depois do álbum Wish You Where Here, que traz a homônima música tema, muito conhecida por aqui.
Animals faz grandes referências à obra A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Numa clara alusão à luta de classes e conceitos como o de mais valia, o livro traduz de maneira metafórica as angústias dos trabalhadores explorados por seus patrões. Assim, na fazenda, os bichos se revoltam contra seus donos, como se estes tivessem consciência de classe e percebessem o quanto suas forças de trabalho são exploradas pelos donos dos bens de produção.
O Pink Floyd sempre foi uma bastante bastante experimental e muito politizada. Não à toa esse disco é poderoso em desafiar os paradigmas políticos e a organização do trabalho com suas letras muito bem trabalhadas. Os arranjos musicais despensam comentários, afinal é o Pink Floyd. Você vai delirar com os solos de guitarra em Dogs, ou perceber como o teclado tem nuances bastante inovadoras (para a época) em Pigs. Sons de cachorros e porcos são comuns nas músicas, mas sempre amalgamadas ao som da banda, nada dissonantes O experimentalismo Floydiano é tanto que as músicas são poucas, mas duas delas passam dos 10 minutos de duração.
Disponibilizo aqui um vídeo da música One of These Days( sim, garotos, a música é só instrumental, o que não quer dizer que seja ruim), que não pertence ao álbum, mas é uma das músicas mais psicodélicas da banda e são usados nos shows da turnê Pulse (na minha humilde opinião o melhor espetáculo de luzes, lasers e efeitos visuais num show já registrado), os porcos voadores que fizeram parte da turnê Animals estão lá.
Aconselho adquirir o álbum, ou ao menos baixar essa preciosidade. Ah, mas escutar Pink Floyd é como ouvir música clássica, concentração e ouvido preparado para o refinamento.
Boa música a todos.
A Hora dos Ruminantes
Aos alunos do 3º ano do Ensino Médio, disponibilizo aqui um ensaio dos profs. André Luiz Alves Caldas Amóra e Tatiana Alves Soares Caldas sobre a obra de José J. Veiga. É óbvio que a análise aqui não substitui a leitura do livro, que é imperescindível para a realização das provas de Literatura e para a formação cultural de cada um. Aliás, ler essa análise sem conhecer em detalhes o livro torna-se um exercício bastante difícil para entendê-la. Bom, posteriormente tentarei aqui realizar alguns comentários acerca da obra. Mas somente após as provas. Ah, o professor Flávio Kothe foi meu professor durante o curso de pós-graduação de Língua e Literatura na UEG, pessoa das mais competentes na teoria literária. O material é denso, mas bastante essencial.
Bom estudo!
A HORA DOS RUMINANTES
UM ROMANCE METAFÓRICO
hora dos ruminantes, romance de José J. Veiga, conta a história de um lugarejo pacato - Manarairema - que é bruscamente submetido à opressão de homens desconhecidos e misteriosos, que se instalam próximos ao lugar.
Alegórico em alguns aspectos e possuindo elementos do realismo fantástico, o romance desenvolve-se através de símbolos, sendo estes um recurso estilístico para denunciar o contexto histórico-político ditatorial. Procuramos, neste trabalho, explorar alguns desses recursos de âmbito semântico e lexical, através das imagens apresentadas.
Segundo Todorov (1970), o fantástico caracteriza-se por uma atitude de hesitação diante de um acontecimento que não apresenta explicações naturais, ocupando, portanto, o tempo da incerteza. Assim que uma resposta é apresentada, sai-se do fantástico e envereda-se pelo estranho ou pelo maravilhoso.
A hora dos ruminantes, portanto, apresenta uma narrativa fantástica no plano da história. Podemos perceber este aspecto fantástico, por exemplo, na invasão dos cachorros e na dos bois. Na primeira, Manarairema entra em pânico, quando centenas de cães tomam conta da cidade, invadindo casas e acuando os habitantes. Em seguida, sem nenhuma explicação, os cachorros deixam o pacato lugar. Porém, o pior ainda estava por vir: uma outra invasão, a dos bois, deixaria a cidade totalmente encurralada. Os ruminantes tirariam a tranqüilidade de Manarairema, colocando os moradores como prisioneiros em suas próprias casas e desaparecendo misteriosamente, como os cães, deixando a cidade em paz. Pode-se dizer que este romance tende ao maravilhoso, já que não há explicações para o aparecimento nem para o sumiço dos invasores - os cães e os bois.
Saindo do plano da história, A hora dos ruminantes propõe ainda uma reflexão alegórica, pois J. J. Veiga utiliza-se de símbolos que retratam a censura imposta no Brasil nos tempos ditatoriais. Flávio Kothe, em seu estudo sobre a alegoria, define-a a partir de sua relação com a metáfora:
[A alegoria é uma] representação concreta de uma idéia abstrata. Exposição de um pensamento sob forma figurada em que se representa algo para indicar outra coisa. Subjacente ao nível manifesto, comporta um outro conteúdo. É uma metáfora continuada, como tropo de pensamento, consistindo na substituição do pensamento em causa por outro, ligando ao primeiro por uma relação de semelhança. (KOTHE, 1986: 90)
Dessa forma, portanto, verifica-se a ocorrência simultânea do fantástico e da alegoria, categorias que normalmente excluem uma à outra. Acreditamos, contudo, que não seja esse o caso, uma vez que a alegoria e o fantástico se dão em esferas diferentes n'A hora dos ruminantes. Enquanto o fantástico se estabelece no enunciado, a alegoria é percebida somente na reflexão por parte do leitor.
Selma Calasans Rodrigues, em seu estudo sobre o fantástico, analisa o modo pouco usual com que o tema é explorado pelo escritor brasileiro:
J. J. Veiga (...) situa seus personagens num espaço rural, mas que acaba por ser um espaço alegórico que quer falar sempre da relação entre opressor e oprimido ou da possibilidade de viver a liberdade apenas no sonho (...). Seu fantástico, que começa leve, se adensa, avizinhando-se do absurdo (...) e, a par das reflexões de caráter existencial, parece ser a alegoria da sociedade brasileira dos anos de ditadura e opressão. (RODRIGUES, 1988: 65-66)
No campo semântico-lexical, muitas são as imagens que remetem ao momento de ditadura. A divisão do romance em partes - correspondentes às três invasões - que se vão intensificando metaforiza a situação que foge ao controle da população. A primeira parte, intitulada A chegada, refere-se à invasão realizada pelos homens da tapera. Significativos são os dois parágrafos iniciais da narrativa, que parecem sintetizar o que virá em seguida:
A noite chegava cedo em Manarairema. Mal o sol se afundava atrás da serra - quase que de repente, como caindo - já era hora de acender candeeiros, de recolher bezerros, de se enrolar em xales. A friagem até então continuada nos remansos do rio, em fundos de grotas, em porões escuros, ia se espalhando, entrando nas casas, cachorro de nariz suado farejando.
Manarairema, ao cair da noite - anúncios, prenúncios, bulícios. Trazidos pelo vento que bate pique nas esquinas, aqueles infalíveis latidos, choros de criança com dor de ouvido, com medo escuro. Palpites de sapos em conferência, grilos afiando ferros, morcegos costurando a esmo, estendendo panos pretos, enfeitando o largo para alguma festa soturna. Manarairema vai sofrer a noite. (VEIGA, 2001: 9)
A passagem acima prenuncia o que virá a seguir. A imagem da noite, geralmente tida como negativa, assume contornos ainda mais assustadores pelos vocábulos utilizados para caracterizá-la - friagem, grotas, porões escuros - , idéia intensificada pela informação de que o cair da noite trará sofrimento. Digno de destaque é o início do segundo parágrafo do texto, associando os prenúncios e bulícios à noite. A passagem apresenta ainda referências a um medo escuro, além de panos pretos e morcegos, atribuindo um ar ainda mais macabro à noite de Manarairema, com tudo remetendo ao sombrio, às trevas, com toda a simbologia nelas contida. Ao dizer “Manarairema vai sofrer a noite”, o narrador identifica a noite como agente causador do sofrimento do lugar. A ausência da crase impossibilita que se veja a noite como um adjunto adverbial de tempo, reiterando a idéia de que ela seria a verdadeira expiação do pacato lugarejo.
A narrativa transcorre sem que se saiba de imediato o que de tão aterrador aconteceria no lugar. Entretanto, literalmente da noite para o dia, tudo parece se transformar:
No dia seguinte a cidade amanheceu ainda sem toucinho, mas com uma novidade: um grande acampamento fumegando e pulsando do outro lado do rio, coisa repentina, de se esfregar os olhos. (VEIGA, 2001: 12)
A imagem do acampamento surge com tal rapidez que causa assombro nos habitantes do lugar. Aos poucos, a curiosidade transforma-se em especulação:
(...) aqueles lá acamparam em linha, duas fileiras, medidas, deixando uma espécie de largo no meio. (...) enquanto os homens andavam ativos carregando volumes, abrindo volumes, se consultando, sem tomar conhecimento da cidade ali perto. Seriam engenheiros? Mineradores? Gente do governo? (VEIGA, 2001: 13)
O romance finda com uma imagem muito expressiva: um relógio de igreja batendo horas, ainda desregulado. Apesar de ainda lerdo, seus ponteiros vão sendo pouco a pouco acertados, em mais uma das metáforas que perpassam o texto. Bons e maus momentos retornam, fazendo um balanço do acontecido e passando a limpo o tempo de Manarairema.
terça-feira, 30 de março de 2010
Arcadismo / Neoclassicismo
Segue agora aos meus queridos alunos do 2º ano do Ensino Médio, uma breve explicação acerca do período literário conhecido como Arcadismo. Espero que apreciem, e lembrem-se de buscar ainda mais informações e se inteirar mais ainda dos textos dos principais artistas..
Também conhecido por Setecentismo (dos anos 1700), este estilo traduz a busca do natural e do simples com a adoção de esquemas rítmicos mais gracioso. Este movimento traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
A busca do campo pela arte é uma forma de resgate de um bem perdido pelo surgimento das cidades. Assim justifica-se como principal característica o bucolismo, elevando a vida despreocupada e idealizada nos campos.
O mito do homem natural, bom selvagem, do herói pacífico representa certa oposição aos abusos de juízes, políticos e clero. Essa politização do movimento apresenta-se também através dos poetas árcades que eram participantes da Conjuração Mineira.
Referências históricas
Século das Luzes propaga a ciência, o saber e o progresso e crença de que o bem-estar coletivo só pode advir da razão.
Influência da teoria de Rousseau do bom selvagem (origem do nativismo)
Influência de Horácio com "Fugere urbem" (fugir da cidade).
Revolução Industrial, urbanização e independência dos Estados Unidos em 1776
Movimentos de revolta em muitas colônias da América Latina como a Inconfidência Mineira.
No Brasil - mineração, Inconfidência, poetas árcades e Aleijadinho.
Transferência do centro econômico do Nordeste para Rio de Janeiro e Minas Gerais, em particular Vila Rica.
serindo nesse ambiente de renovação cultural , a literatura apresenta também novas propostas estéticas .
Em termos didáticos , costuma-se indicar o ano de 1756 - data da fundação da Arcádia Lusitana , uma espécie de academia literária - como marco inicial desse novo movimento , que se desenvolveu sobretudo no campo da poesia .
Reagindo contra os excessos do estilo barroco ( principalmente o gongorismo ) , os autores arcádicos propõem uma literatura mais equilibradas e racional ; a uma linguagem mais simples junta-se uma visão meRos problemática da vida . A crítica ao rebuscamento barroco , aliás , é bem explícita nesta passagem de Verney : "Tenho ainda outra coisa que advertir, que também é feito de mau engenho , e são aqueles ditos que chamam agudos , e jogos de palavras , que se acham freqüentemente nos prosadores e freqüentissimamente nos poemas . Verá V.P. pessoas que cuidam dizer graças e coisas engenhosas , e dizem insípidas ridicularias . Outros servem-se de uma palavra com um c, que , posta com l , significa coisa diferente ; e daqui formam uma caraminhola a que chamam engenho , e ficam mui satisfeitos da sua agudeza .
(...) As graças , pela maior parte , têm beleza respectiva : em boca de uns , têm graça ; $a dos outros , não . A agudeza , quando não é pura , é o mesmo . Pela maior parte , as que passam com este nome não merecem este título : são meros jogos de palavras , que agradam infinitamente aos ignorantes . " (*)
simplicidade , certo ar filosófico , elogio dos prazeres físicos , sensualismo - são algumas das características constantes do Arcadismo , que , em busca da inspiração , volta-se para os autores renascentistas ( sobretudo Camões ) e clássicos gregos e latinos . Daí o nome com que também se designa esse período - Neoclassicismo .
Por outro lado , o desejo de uma vida simples e natural levou os poetas a idealizarem a natureza , vendo no ambiente rústico do campo o refúgio para a alma que busca escapar das agitações da cidade . Numa tentativa de identificação , os poetas arcádicos adotam pseudônimos gregos ou latinos , transformam-se em pastores e transferem seus sentimentos amorosos para gentis pastoras , que passeiam por campos verdejantes cuidando se de seus rebanhos . ( O nome Arcadismo , aliás , deriva de Arcádia , região cantada pelos poetas gregos onde , segundo as lendas , pastores viveriam uma existência de amor e poesia . ) A mitologia clássica passa a fornecer elementos para a ornamentação das poesias , que estão sempre recheadas de ninfas , cupidos , Vênus , Zéfiro etc .
Como se evidencia , ao atingir esse ponto a poesia do Arcadismo desliga-se totalmente da realidade , pois na Europa a Revolução Industrial já avançara rapidamente e nada mais diferente dessas paisagens que as cidades do fim do século XVIII , O ambiente campestre, pois , passa a ser uma espécie de paraíso perdido , refúgio para o homem que se vê um pouco desnorteado no torvelinho do desenvolvimento que começa a tomar conta das cidades . Esse distanciamento entre poesia e realidades dá ao Arcadismo um tom muito artificial , reduzindo-o a certas formas estereotipadas que , à custa de tanto serem empregadas , desgastam-se .
Por outro lado , se o Arcadismo , mesmo quebrando o excesso de rebuscamento da linguagem barroca e impondo outro tom à poesia do século XVIII , não conseguiu firmar-se como movimento vigoroso em vista de suas próprias contradições internas , foi importante por permitir liberdade maior em termos de composição e expressão poéticas . O compromisso com os princípios arcádicos , aliás , é bem menor nos poetas do final do século , a partir mais ou menos , de 1770 . Nestes , o sentimentalismo e a tendência acentuados , podendo-se dizer que alguns são precursores do Romantismo ; Europa e algumas das principais obras românticas já estavam publicadas , tais como Werther , de goethe , em 1774 e Paul et Virgine , de Bernadin de Saint-Pierre , em 1788 .
Fugere urbem
Os árcades buscavam uma vida simples, bucólica, longe do burburinho citadino.
Inutilia truncar
A frase em latim resume grande parte da estética árcade. Ela significa que "as inutilidades devem ser banidas" e vai ao encontro do desprezo pelo exagero e pelo rebuscamento, característicos do Barroco.
Carpe diem
Aproveitar o dia, viver o momento presente com grande intensidade, foi uma atitude inteiramente assumida por esses poetas.
Pastores, que levais ao monte o gado, Vêde lá como andais por essa serra; Que para dar contágio a toda a terra, Basta ver se o meu rosto magoado:
Eu ando (vós me vêdes) tão pesado; E a pastora infiel, que me faz guerra, É a mesma, que em seu semblante encerra A causa de um martírio tão cansado.
Se a quereis conhecer, vinde comigo, Vereis a formosura, que eu adoro; Mas não; tanto não sou vosso inimigo:
Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro; Que se seguir quiserdes, o que eu sigo, Chorareis, ó pastores, o que eu choro.
Cláudio Manuel da Costa
Lira XIX
Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha idéia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
À dor imensa, que me cerca e mata.
Quando em meu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto e escuto
A tua voz e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passo:
Eu beijo a tíbia luz em vez de face,
E aperto sobre o peito em vão os braços.
Enternece-me Amor de estrago tanto;
Reclina-me no peito, e com mão terna
Me limpa os olhos do salgado pranto.
Depois que represento
Por largo espaço a imagem de um defunto
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que Amor me tem consigo;
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:
"Se queres ser piedoso,
"Procura o sítio em que Marília mora,
"Pinta-lhe o meu estrago,
E vê, Amor, se chora,
"Se, a lágrimas verter, se a dor a arrasta.
"Uma delas me traze sobre as penas,
E para alívio meu só isto basta.“
Tomáz Antônio Gonzaga
Parece, ou eu me engano, que esta fonte
de repente o licor deixou turvado;
o céu, que estava limpo, e azulado,
se vai escurecendo no horizonte:
Por que não haja horror, que não aponte
o agouro funestíssimo, e pesado,
até de susto já não pasta o gado;
nem uma voz se escuta em todo o monte.
Um raio de improviso na celeste
região rebentou: um branco lírio
da cor das violetas se reveste;
será delírio! não, não é delírio.
Que é isto, pastor meu? que anúncio é este?
Morreu Nize (ai de mim), tudo é martírio.
Cláudio Manuel da Costa
Também conhecido por Setecentismo (dos anos 1700), este estilo traduz a busca do natural e do simples com a adoção de esquemas rítmicos mais gracioso. Este movimento traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
A busca do campo pela arte é uma forma de resgate de um bem perdido pelo surgimento das cidades. Assim justifica-se como principal característica o bucolismo, elevando a vida despreocupada e idealizada nos campos.
O mito do homem natural, bom selvagem, do herói pacífico representa certa oposição aos abusos de juízes, políticos e clero. Essa politização do movimento apresenta-se também através dos poetas árcades que eram participantes da Conjuração Mineira.
Referências históricas
Século das Luzes propaga a ciência, o saber e o progresso e crença de que o bem-estar coletivo só pode advir da razão.
Influência da teoria de Rousseau do bom selvagem (origem do nativismo)
Influência de Horácio com "Fugere urbem" (fugir da cidade).
Revolução Industrial, urbanização e independência dos Estados Unidos em 1776
Movimentos de revolta em muitas colônias da América Latina como a Inconfidência Mineira.
No Brasil - mineração, Inconfidência, poetas árcades e Aleijadinho.
Transferência do centro econômico do Nordeste para Rio de Janeiro e Minas Gerais, em particular Vila Rica.
serindo nesse ambiente de renovação cultural , a literatura apresenta também novas propostas estéticas .
Em termos didáticos , costuma-se indicar o ano de 1756 - data da fundação da Arcádia Lusitana , uma espécie de academia literária - como marco inicial desse novo movimento , que se desenvolveu sobretudo no campo da poesia .
Reagindo contra os excessos do estilo barroco ( principalmente o gongorismo ) , os autores arcádicos propõem uma literatura mais equilibradas e racional ; a uma linguagem mais simples junta-se uma visão meRos problemática da vida . A crítica ao rebuscamento barroco , aliás , é bem explícita nesta passagem de Verney : "Tenho ainda outra coisa que advertir, que também é feito de mau engenho , e são aqueles ditos que chamam agudos , e jogos de palavras , que se acham freqüentemente nos prosadores e freqüentissimamente nos poemas . Verá V.P. pessoas que cuidam dizer graças e coisas engenhosas , e dizem insípidas ridicularias . Outros servem-se de uma palavra com um c, que , posta com l , significa coisa diferente ; e daqui formam uma caraminhola a que chamam engenho , e ficam mui satisfeitos da sua agudeza .
(...) As graças , pela maior parte , têm beleza respectiva : em boca de uns , têm graça ; $a dos outros , não . A agudeza , quando não é pura , é o mesmo . Pela maior parte , as que passam com este nome não merecem este título : são meros jogos de palavras , que agradam infinitamente aos ignorantes . " (*)
simplicidade , certo ar filosófico , elogio dos prazeres físicos , sensualismo - são algumas das características constantes do Arcadismo , que , em busca da inspiração , volta-se para os autores renascentistas ( sobretudo Camões ) e clássicos gregos e latinos . Daí o nome com que também se designa esse período - Neoclassicismo .
Por outro lado , o desejo de uma vida simples e natural levou os poetas a idealizarem a natureza , vendo no ambiente rústico do campo o refúgio para a alma que busca escapar das agitações da cidade . Numa tentativa de identificação , os poetas arcádicos adotam pseudônimos gregos ou latinos , transformam-se em pastores e transferem seus sentimentos amorosos para gentis pastoras , que passeiam por campos verdejantes cuidando se de seus rebanhos . ( O nome Arcadismo , aliás , deriva de Arcádia , região cantada pelos poetas gregos onde , segundo as lendas , pastores viveriam uma existência de amor e poesia . ) A mitologia clássica passa a fornecer elementos para a ornamentação das poesias , que estão sempre recheadas de ninfas , cupidos , Vênus , Zéfiro etc .
Como se evidencia , ao atingir esse ponto a poesia do Arcadismo desliga-se totalmente da realidade , pois na Europa a Revolução Industrial já avançara rapidamente e nada mais diferente dessas paisagens que as cidades do fim do século XVIII , O ambiente campestre, pois , passa a ser uma espécie de paraíso perdido , refúgio para o homem que se vê um pouco desnorteado no torvelinho do desenvolvimento que começa a tomar conta das cidades . Esse distanciamento entre poesia e realidades dá ao Arcadismo um tom muito artificial , reduzindo-o a certas formas estereotipadas que , à custa de tanto serem empregadas , desgastam-se .
Por outro lado , se o Arcadismo , mesmo quebrando o excesso de rebuscamento da linguagem barroca e impondo outro tom à poesia do século XVIII , não conseguiu firmar-se como movimento vigoroso em vista de suas próprias contradições internas , foi importante por permitir liberdade maior em termos de composição e expressão poéticas . O compromisso com os princípios arcádicos , aliás , é bem menor nos poetas do final do século , a partir mais ou menos , de 1770 . Nestes , o sentimentalismo e a tendência acentuados , podendo-se dizer que alguns são precursores do Romantismo ; Europa e algumas das principais obras românticas já estavam publicadas , tais como Werther , de goethe , em 1774 e Paul et Virgine , de Bernadin de Saint-Pierre , em 1788 .
Fugere urbem
Os árcades buscavam uma vida simples, bucólica, longe do burburinho citadino.
Inutilia truncar
A frase em latim resume grande parte da estética árcade. Ela significa que "as inutilidades devem ser banidas" e vai ao encontro do desprezo pelo exagero e pelo rebuscamento, característicos do Barroco.
Carpe diem
Aproveitar o dia, viver o momento presente com grande intensidade, foi uma atitude inteiramente assumida por esses poetas.
Pastores, que levais ao monte o gado, Vêde lá como andais por essa serra; Que para dar contágio a toda a terra, Basta ver se o meu rosto magoado:
Eu ando (vós me vêdes) tão pesado; E a pastora infiel, que me faz guerra, É a mesma, que em seu semblante encerra A causa de um martírio tão cansado.
Se a quereis conhecer, vinde comigo, Vereis a formosura, que eu adoro; Mas não; tanto não sou vosso inimigo:
Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro; Que se seguir quiserdes, o que eu sigo, Chorareis, ó pastores, o que eu choro.
Cláudio Manuel da Costa
Lira XIX
Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha idéia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
À dor imensa, que me cerca e mata.
Quando em meu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto e escuto
A tua voz e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passo:
Eu beijo a tíbia luz em vez de face,
E aperto sobre o peito em vão os braços.
Enternece-me Amor de estrago tanto;
Reclina-me no peito, e com mão terna
Me limpa os olhos do salgado pranto.
Depois que represento
Por largo espaço a imagem de um defunto
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que Amor me tem consigo;
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:
"Se queres ser piedoso,
"Procura o sítio em que Marília mora,
"Pinta-lhe o meu estrago,
E vê, Amor, se chora,
"Se, a lágrimas verter, se a dor a arrasta.
"Uma delas me traze sobre as penas,
E para alívio meu só isto basta.“
Tomáz Antônio Gonzaga
Parece, ou eu me engano, que esta fonte
de repente o licor deixou turvado;
o céu, que estava limpo, e azulado,
se vai escurecendo no horizonte:
Por que não haja horror, que não aponte
o agouro funestíssimo, e pesado,
até de susto já não pasta o gado;
nem uma voz se escuta em todo o monte.
Um raio de improviso na celeste
região rebentou: um branco lírio
da cor das violetas se reveste;
será delírio! não, não é delírio.
Que é isto, pastor meu? que anúncio é este?
Morreu Nize (ai de mim), tudo é martírio.
Cláudio Manuel da Costa
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