terça-feira, 30 de março de 2010

Arcadismo / Neoclassicismo

Segue agora aos meus queridos alunos do 2º ano do Ensino Médio, uma breve explicação acerca do período literário conhecido como Arcadismo. Espero que apreciem, e lembrem-se de buscar ainda mais informações e se inteirar mais ainda dos textos dos principais artistas..


Também conhecido por Setecentismo (dos anos 1700), este estilo traduz a busca do natural e do simples com a adoção de esquemas rítmicos mais gracioso. Este movimento traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
A busca do campo pela arte é uma forma de resgate de um bem perdido pelo surgimento das cidades. Assim justifica-se como principal característica o bucolismo, elevando a vida despreocupada e idealizada nos campos.
O mito do homem natural, bom selvagem, do herói pacífico representa certa oposição aos abusos de juízes, políticos e clero. Essa politização do movimento apresenta-se também através dos poetas árcades que eram participantes da Conjuração Mineira.



Referências históricas


Século das Luzes propaga a ciência, o saber e o progresso e crença de que o bem-estar coletivo só pode advir da razão.

Influência da teoria de Rousseau do bom selvagem (origem do nativismo)

Influência de Horácio com "Fugere urbem" (fugir da cidade).

Revolução Industrial, urbanização e independência dos Estados Unidos em 1776
Movimentos de revolta em muitas colônias da América Latina como a Inconfidência Mineira.

No Brasil - mineração, Inconfidência, poetas árcades e Aleijadinho.

Transferência do centro econômico do Nordeste para Rio de Janeiro e Minas Gerais, em particular Vila Rica.





serindo nesse ambiente de renovação cultural , a literatura apresenta também novas propostas estéticas .

Em termos didáticos , costuma-se indicar o ano de 1756 - data da fundação da Arcádia Lusitana , uma espécie de academia literária - como marco inicial desse novo movimento , que se desenvolveu sobretudo no campo da poesia .

Reagindo contra os excessos do estilo barroco ( principalmente o gongorismo ) , os autores arcádicos propõem uma literatura mais equilibradas e racional ; a uma linguagem mais simples junta-se uma visão meRos problemática da vida . A crítica ao rebuscamento barroco , aliás , é bem explícita nesta passagem de Verney : "Tenho ainda outra coisa que advertir, que também é feito de mau engenho , e são aqueles ditos que chamam agudos , e jogos de palavras , que se acham freqüentemente nos prosadores e freqüentissimamente nos poemas . Verá V.P. pessoas que cuidam dizer graças e coisas engenhosas , e dizem insípidas ridicularias . Outros servem-se de uma palavra com um c, que , posta com l , significa coisa diferente ; e daqui formam uma caraminhola a que chamam engenho , e ficam mui satisfeitos da sua agudeza .

(...) As graças , pela maior parte , têm beleza respectiva : em boca de uns , têm graça ; $a dos outros , não . A agudeza , quando não é pura , é o mesmo . Pela maior parte , as que passam com este nome não merecem este título : são meros jogos de palavras , que agradam infinitamente aos ignorantes . " (*)

simplicidade , certo ar filosófico , elogio dos prazeres físicos , sensualismo - são algumas das características constantes do Arcadismo , que , em busca da inspiração , volta-se para os autores renascentistas ( sobretudo Camões ) e clássicos gregos e latinos . Daí o nome com que também se designa esse período - Neoclassicismo .

Por outro lado , o desejo de uma vida simples e natural levou os poetas a idealizarem a natureza , vendo no ambiente rústico do campo o refúgio para a alma que busca escapar das agitações da cidade . Numa tentativa de identificação , os poetas arcádicos adotam pseudônimos gregos ou latinos , transformam-se em pastores e transferem seus sentimentos amorosos para gentis pastoras , que passeiam por campos verdejantes cuidando se de seus rebanhos . ( O nome Arcadismo , aliás , deriva de Arcádia , região cantada pelos poetas gregos onde , segundo as lendas , pastores viveriam uma existência de amor e poesia . ) A mitologia clássica passa a fornecer elementos para a ornamentação das poesias , que estão sempre recheadas de ninfas , cupidos , Vênus , Zéfiro etc .

Como se evidencia , ao atingir esse ponto a poesia do Arcadismo desliga-se totalmente da realidade , pois na Europa a Revolução Industrial já avançara rapidamente e nada mais diferente dessas paisagens que as cidades do fim do século XVIII , O ambiente campestre, pois , passa a ser uma espécie de paraíso perdido , refúgio para o homem que se vê um pouco desnorteado no torvelinho do desenvolvimento que começa a tomar conta das cidades . Esse distanciamento entre poesia e realidades dá ao Arcadismo um tom muito artificial , reduzindo-o a certas formas estereotipadas que , à custa de tanto serem empregadas , desgastam-se .

Por outro lado , se o Arcadismo , mesmo quebrando o excesso de rebuscamento da linguagem barroca e impondo outro tom à poesia do século XVIII , não conseguiu firmar-se como movimento vigoroso em vista de suas próprias contradições internas , foi importante por permitir liberdade maior em termos de composição e expressão poéticas . O compromisso com os princípios arcádicos , aliás , é bem menor nos poetas do final do século , a partir mais ou menos , de 1770 . Nestes , o sentimentalismo e a tendência acentuados , podendo-se dizer que alguns são precursores do Romantismo ; Europa e algumas das principais obras românticas já estavam publicadas , tais como Werther , de goethe , em 1774 e Paul et Virgine , de Bernadin de Saint-Pierre , em 1788 .
Fugere urbem

Os árcades buscavam uma vida simples, bucólica, longe do burburinho citadino.
Inutilia truncar

A frase em latim resume grande parte da estética árcade. Ela significa que "as inutilidades devem ser banidas" e vai ao encontro do desprezo pelo exagero e pelo rebuscamento, característicos do Barroco.
Carpe diem

Aproveitar o dia, viver o momento presente com grande intensidade, foi uma atitude inteiramente assumida por esses poetas.


Pastores, que levais ao monte o gado, Vêde lá como andais por essa serra; Que para dar contágio a toda a terra, Basta ver se o meu rosto magoado:

Eu ando (vós me vêdes) tão pesado; E a pastora infiel, que me faz guerra, É a mesma, que em seu semblante encerra A causa de um martírio tão cansado.

Se a quereis conhecer, vinde comigo, Vereis a formosura, que eu adoro; Mas não; tanto não sou vosso inimigo:

Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro; Que se seguir quiserdes, o que eu sigo, Chorareis, ó pastores, o que eu choro.

Cláudio Manuel da Costa


Lira XIX
Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha idéia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
À dor imensa, que me cerca e mata.
Quando em meu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto e escuto
A tua voz e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passo:
Eu beijo a tíbia luz em vez de face,
E aperto sobre o peito em vão os braços.

Enternece-me Amor de estrago tanto;
Reclina-me no peito, e com mão terna
Me limpa os olhos do salgado pranto.
Depois que represento
Por largo espaço a imagem de um defunto
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que Amor me tem consigo;
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:
"Se queres ser piedoso,
"Procura o sítio em que Marília mora,
"Pinta-lhe o meu estrago,
E vê, Amor, se chora,
"Se, a lágrimas verter, se a dor a arrasta.
"Uma delas me traze sobre as penas,
E para alívio meu só isto basta.“

Tomáz Antônio Gonzaga

Parece, ou eu me engano, que esta fonte
de repente o licor deixou turvado;
o céu, que estava limpo, e azulado,
 se vai escurecendo no horizonte:
 
Por que não haja horror, que não aponte
o agouro funestíssimo, e pesado,
até de susto já não pasta o gado;
 nem uma voz se escuta em todo o monte.
 
Um raio de improviso na celeste
 região rebentou: um branco lírio
da cor das violetas se reveste;
 
será delírio! não, não é delírio.
Que é isto, pastor meu? que anúncio é este?
 Morreu Nize (ai de mim), tudo é martírio.

Cláudio Manuel da Costa