domingo, 16 de janeiro de 2011

As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada



Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada, As (2010)
Chronicles of Narnia: Voyage of the Dawn Treader, The


Direção: Michael Apted
Roteiro: Stephen McFeely,Christopher Markus,Michael Petroni
Elenco: Will Poulter (Eustace Scrubb), Liam Neeson (Aslan - voz), Ben Barnes, Georgie Henley, Skandar Keynes, William Moseley (Peter Pevensie), Anna Popplewell (Susan Pevensie), Tilda Swinton (Bruxa Branca do Inverno)


Remando contra a enorme maré de admiradores de As Crônicas de Nárnia, nunca escondi minha humilde opinião sobre um filme que é raso e apenas regular. Porém, essa última empreitada dos irmãos Pevensie na terra encantada é bem pior que os antecessores.

O navio Peregrino da Alvorada é a condução de Lúcia e Edmundo que tentam ajudar a localizar sete lordes banidos do reino de Nárnia, sem muita explicação aparente e com um resgate que está na história apenas como enfeite. Com um roteiro canhestro em mãos, o diretor Michael Apted resume seu filme em deslocar os personagens do ponto x ao ponto y com uma estrutura digna de um RPG, de um jogo para computador com elementos superficiais. O roteiro ainda tem diálogos sofríveis como: “- Eles são os irmãos mais velhos, Lúcia; e nós somos... (tcham, tcham, tcham, tcham!)... os irmãos mais novos.”

Mas se o roteiro sobrevivesse por força das cenas bem trabalhadas, teríamos ao menos um filme-pipoca, mas em vez disso temos um filme muito chato. As cenas de ação são vergonhosas, os quadros rápidos e coreografias pouco interessantes das lutas tornam a experiência desse filme uma agonia. Nunca temos a real impressão de ameaça nas lutas. Ninguém parece realmente se ferir nas batalhas, o que confere um ar de artificialidade incorrigível. E os puristas de plantão nem se podem dar ao direito de dizer que se trata de um filme para crianças. Há várias maneiras de um filme transmitir emoção sem violência explícita. Assistam ao longa A História Sem Fim (o original de 1984) e percebam o quanto os personagens são mais ricos, a ponto de nos comovermos com muitos acontecimentos e muitos personagens; num universo claramente infantil, mas não pueril. O fato é que A Viagem do Peregrino da Alvorada sofre do mesmo problema do primeiro filme, nunca conferir real identidade de perigo nas cenas de batalha, ou pelo menos a dor e tristeza de ser forçado a participar de tais lutas, afinal, eles são crianças.

Criaturas interessantes do universo de Nárnia são deixadas ao ostracismo simplesmente. Nenhum diálogo torna os personagens mais profundos, são apenas seres estáticos tal qual o quadro antes do “fenômeno” no quarto dos garotos. Lúcia é a garota sonhadora e pura que deseja se tornar tão bela quanto a irmã mais velha, Edmundo é o rapaz destemido e às vezes inconseqüente que deseja superar... a imagem do irmão mais velho; finalmente Eustáquio é o personagem de linhagem cômica responsável por umas gags sem muito sucesso com seu estilo incrédulo e irritante. Resumindo: temos uma galeria de estereótipos nesse filme. E não param por aí. Temos o personagem salvador, o príncipe honrado, o animalzinho que faz par cômico, etc.

Algo que realmente me deixou triste nessa sequencia é que eu esperava pelo menos uma fotografia interessante e uma direção de arte digna de nota ( elementos primordiais nesse tipo de produção). A fotografia é bastante ruim. O tom quase sépia em alguns ambientes terrestres não é nada bonito e a iluminação em cenas noturnas desaponta. Os cenários não possuem vida o que marca uma direção de arte capenga, sem qualquer inspiração. Após o filme o cenário que mais nos fica na lembrança é o mar Vermelho... cof, cof... mar de Aslon que nem é original. Nem mesmo o barco que dá nome ao título recebeu um tratamento digno de nota.

Desinteressante em muitos aspectos, As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada apenas é competente nos efeitos especiais, conferindo certa naturalidade aos seres mitológicos que dificilmente se vê em alguns estúdios, além do tratamento de algumas cenas. No entanto, com tropeços desastrosos no roteiro e na direção, o filme é passável. O roteiro parece incluir elementos do livro somente para agradar aos leitores, como os seres invisíveis que obrigam Lúcia a tentar desfazer o feitiço. Quando ela consegue, eles simplesmente vão embora, sem mais nem menos. Não conhecemos suas intenções, o passado deles, a relação com o mago, nada! Só estão de passagem. Numa redação chamamos isso de encher lingüiça. O que o filme faz a torto e direito. Como Aslon é alguém com nome diferente no nosso mundo (sim ele é o salvador), começo a suspeitar que somente Deus e um pouquinho de fantasia podem ocultar o terror do nazismo aos olhares das crianças, numa viés altamente cristã. Não li nenhum dos livros de Lewis, mas me parece que o universo paralelo criado por ele serve não apenas como válvula de escape como também catequização. Afinal, só Aslon salva.

2 comentários:

  1. Professor, quando eu assisto o filme, achei bom, mas agora que estou lendo o livro, vejo que apenas o primeiro filme segue o livro quase à risca, cerca de 95% da história é a mesma, e o filme omite algumas partes e acrescenta outras sem muito cabimento até que se leia o outro livro; mas o Príncipe Caspian e A viagem do Peregrino da Alvorada (que ainda não terminei de ler), são muito diferentes, o Príncipe Caspian tem mais ou menos de 50% a 60% da história do livro, que devo dizer que é muito melhor que o filme, e A viagem do Peregrino da Alvorada, não tem praticamente nada a ver com o livro, tirando os personagens, o navio, a tripulação e o objetivo de encontrar e vingar os Sete Fidalgos, o resto do filme, é uma quase que completa invenção, no livro não há a tal névoa verde, não há espadas (pelo menos não até agora), Eustáquio deicha de ser dragão antes de sair da ilha, ilha essa que no filme, é um misto de duas ilhas pelas quais eles passam no livro, e ainda omitem uma que fica próxima, enfim, se já não leu, leia o livro, é mais caro do que assistir ao filme no cinema, mas compensa muito mais, sem a menor dúvida. (:

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  2. Que bom Adair que você está lendo o livro. A prova de que o filme é ruim porque tem um roteiro mal-feito é, como você disse, uma total falta de compromisso em tornar a história do livro atraente na tela por meio de um roteiro bem adaptado.
    Muito bem.

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