segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Meu Nome é Rádio - Crítica

Meu Nome é Radio (Radio, 2003)
Direção: Michael Tollin
Roteiro: ?
Gênero: Drama/Esporte
Origem: Estados Unidos
Duração:
109 minutos

por Alex Rocha

Não é de hoje que Hollywood explora a biografia de pessoas que superam certas diferenças ou deficiências para alcançarem seus objetivos. Há inúmeros exemplos que variam de autismo, do excelente Rain Man, à paralisia, do não menos brilhante Meu Pé Esquerdo. Afinal, heróis da vida real rendem boas histórias, e pegam o público desprevenido com cenas de forte apelo emocional. Assim pensou o roteirista de Meu Nome É Rádio; no entanto o resultado não é digno de comparação com os dois filmes mencionados.

Numa pequena cidade chamada Anderson, no sul dos EUA, vive um diretor de esportes e também técnico do time de futebol americano juvenil( Ed Harris). Durante os treinos este passa a notar a presença de um rapaz que apresenta comportamento introspectivo devido a sua deficiência mental( Cuba Gooding Jr), Ajudando o rapaz a vencer as dificuldades para se socializar e ter uma vida de rotina comum a qualquer pessoa, o técnico consegui inserir "Radio" na rotina do time e da escola.


Simples assim é o roteiro, e é aí que reside o maior problema do longa metragem. Se em Rain Man o personagem de Dustin Hoffman tem como meta cruzar o país com seu irmão Charlie para que este último feche um negócio; e em Meu Pé Esquerdo o personagem de Daniel Day Lewis tenta superar a perda dos movimentos do corpo para se tornar um pintor de talento; em Meu Nome é Rádio o personagem de Cuba Gooding Jr não tem qualquer meta definida, ou o técnico Jones que também não tem um norte. O próprio personagem diz que não sabe até onde vai sua insistência em ajudar o rapaz. Essa fala soa mais como uma desculpa esfarrapada do roteirista que não encontrou algo que realmente definisse a busca do técnico. Criar um roteiro a partir de uma biografia exige do escritor talento para focar a história da pessoa num certo drama pessoal que inclui obstáculos diversos ou ameaças constantes. Desde o início da projeção até o seu desfecho senti pela falta de qualquer ameaça que afastasse o personagem de seu objetivo. Uma falha muito grave, já que filmes como Uma Mente Brilhante usa até mesmo elementos da própria personagem como dificuldades sérias. O que seria a história de John Nash se sua esquizofrenia não fosse sua maior inimiga? Assim, não são necessários elementos fantasiosos ou alterações comprometedoras da fidelidade dos fatos para se criar uma boa história. Basta apenas um pouco mais de cuidado para com os elementos da narrativa.

O mesmo pode se dizer da direção insegura de Michael Tollin. Há bons momentos no longa, como as seqüências firmes dos momentos de natal, outras soam falsas e previsíveis como as cenas do técnico Jones com sua família. Além disso, o diretor tenta empregar vigor nas poucas cenas que oferecem qualquer desafio para o jovem James "Radio", mas falha pela falta de ritmo, como uma cena em que o jovem é preso injustamente, mas logo tem o conflito resolvido sem causar qualquer aflição ao espectador. As tentativas de se atribuir a um aluno e seu pai como adversários do técnico e de seu pupilo também são frustradas pela falta de ousadia da direção que parece negar as diferenças das pessoas no nosso mundo e conduz todos os personagens como sujeitos bons, compreensíveis e amáveis. Até mesmo o inspetor que faz visitas à escola em que o técnico James trabalha jamais tenta oferecer qualquer risco para as personagens envolvidas.

Meu Nome É Rádio não é um filme de todo ruim. Pelo contrário, diverte sem qualquer compromisso. É um filme "sessão da tarde" que cumpre seu papel de entreter sem grandes pretenções. Isso se deve principalmente pelo ótimo trabalho do ator Cuba Gooding Jr que vive um personagem que consegue cativar o público sem exageros ou trejeitos embaraçosos. Também está muito bem o sempre competente Ed Harris, com sotaque carregado do sul dos EUA, fazendo um técnico apaixonado pelo esporte, um ser humano preocupado com o próximo e ao mesmo tempo um pai e marido negligente. Se Harris acerta em criar dinamismo ao seu personagem, o mesmo não se pode falar do roteiro novamente, que vai do ingênuo ao estúpido. Não é plausível a explicação do porquê o técnico sempre ajudar Radio, assim como é péssima a forma com que a trama conduz a relação fria e distante do técnico com sua esposa e filha.

Como anteriormente, Meu Nome É Radio é um filque que se sustenta nos altos e baixos da direção e da boa performance dos atores. Não fosse pelo roteiro pobre e da falta de ousadia o filme poderia ser mais comovente e melhor. Assim, esse é só mais um entre tantos filmes de uma fórmula copiada à exaustão.

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