segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Hospedeiro - Crítica


O Hospedeiro - Crítica


Direção: Joon-ho Bong
Roteiro: Chul-hyun Baek, Joon-ho Bong, Won-jun Ha
Gênero: Ação/Comédia/Fantasia/Terror
Origem: Coréia do Sul
Duração: 119 minutos
Tipo: Longa


Simplesmente fabuloso é o resultado desse filme despretencioso e muito bem elaborado do sul-coreano Joon-ho Bong. Com uma história beirando filmes trash de mal gosto dos orientais, mas de direção firme, atores talentosos e diálogos interessantes, O Hospedeiro consegue agradar a todos os públicos, firmado nas suas diferentes modalidades narrativas.

Um cientisna norte-americano ordena despejar material tóxico num rio em Seul. Anos depois somos apresentados a Gang-du que trabalha com seu pai nas proximidades do rio vendendo comida num trailer. O jovem Gang-du, que aparenta ter baixo QI, espera pela filha Hyun-seo que retorna da escola e juntos vão assistir no trailer à compertição de tiro com arco e flecha do qual a tia é medalhista. Nesse ínterim, uma figura enorme e monstruosa emerge da água, uma criatura de aparência anfíbia que persegue a todos que passeavam no parque às margens do rio. Somos apresentados aí a uma das cenas mais espetaculares do cinema contemporâneo; pode acreditar, o efeito da cena é brilhante, com um ritmo rápido, visual limpo e planos de câmera bastante dramáticos . Primeiro o espanto e admiração do público pelo desconhecido, depois o pânico na perseguição. Entre feridos e mortos está a menina Hyun-seo, levada pelo monstro pelo rio e declarada morta pelo governo sul-coreano. O governo dos EUA declaram ainda que o monstro é hospedeiro de um vírus mortal, isolando a área próxima ao rio e obrigando a todas as famílias envolvidas no acontecimento no parque a permanecerem em quarentena, vigiados pelo exército. O mais impressionante é que Gang-du recebe uma chamada do celular da filha e agora acredita que ela esteja viva. Completamente ignorados pelo governo, a família decide se unir na busca pela menina.

Diferente de outros filmes que seguem o modelo de Tubarão, aumentando constantemente a tensão e o medo mostrando pouco da criatura e em momentos decisivos revelando-a, o diretor opta sempre por deixar em foco a criatura. Apresentado de forma muito convincente, o monstro não é um espetáculo da CGI como acontece com os arrasa-quarteirões americanos; mas é bastante convincente pelo tratamento das cenas. Com ângulos de câmera inusitados e até uso dramático do slow-motion Joon-ho Bong jamais se refreia de mostrar a criatura da maneira mais espetacular o possível. Assim, entendemos o pânico das pessoas e a tensão das cenas não apenas pela sugestão, o que é muito irritante em filmes que pouco mostram a ameaça, nem pela superexposição do ser, reurso que o banaliza e não consegue fazer dela uma ameaça por conta da previsibilidade. Inclusive o longa sul-coreano surpreende muito durante suas quase duas horas de projeção.

O filme ainda se consagra por misturar diferentes gêneros de forma muito equilibrada. Claro que o que predomina é o horror trash de ficção científica, mas são dignos de elogios os momentos de drama e de comédia. O drama da perda e da superação e esperança vivido pela família é realmente emocionante, há uma cena comovente em que Gang-du deve decidir-se em ficar ao lado do pai ou buscar a filha que traduz muito bem o dilema. Também a dor vivida pelas famílias que perderam seus entes queridos no ataque da criatura também é comovente. Mas o filme é repleto de momentos de humor, afinal de contas o longa não se pode levar a sério o tempo todo com um roteiro tão "B" como esse. São momento em que piadas bem sutis quebram o gelo da narrativa, muitos deles em momentos-chave, mas nada de piadas de mal gosto ou cenas deslocadas, tudo de forma sutil e no timming certo. Gags como o do coquetel Molotov nas cenas final conseguem ainda nos causar espanto e humor ao mesmo tempo. Mas sem dúvidas o que predomina é o clima tenso. Não só a caçada ao monstro que também caça as pessoas é bastante crível e inteligentemente assustadora, como os momentos de total impotencia das pessoas frente a agentes do governo céticos tornam-se momento de muito sangue-frio.

O filme ainda se destaca por apresentar de maneira bem inteligente temas de muita discussão na Coréia do Sul. Frente a uma ameaça desconhecida, o governo sempre espera apoio do EUA, assim como acontece com as políticas públicas daquele país, protestos e manifestações diversas refletem a animosidade do povo com governos totalitários, os jovens estudantes que mesmo qualificados na universidade não conseguem encontrar emprego, também discussões ambientais e ameaças biológicas. A direção jamais lança esses temas de forma aberta e explicita, sua função não é o engajamento, mas o cuidado com esses temas é tão grande que nos sentimos presos à reflexão diversas vezes. Os personagens são desenvolvidos de maneira muito inteligente. Após uma apresentação rápida dos intrépidos membros da família, ficamos envolvidos com a busca dos mesmos. São personagens que mesmo sem grande exploração de suas psiquês parecem bastante vivos e carismáticos. Como não se sentir envolvido pelo ar paternal e cuidadoso do patricarca da família? E a desilusão e desamparo do universitário que se encontra desempregado e sua irmã pouco confiante após a derrota numa competição nacional? E então nos identificamos ainda mais com a força e eterminação do jovem pai de Hyun-seo, que mesmo sem idéias brilhantes consegue driblar os agentes do governo, superando a exaustão para encontrar a filha.

Com um desfecho cheio de cenas inteligentes e muita competência técnica do ponto de vista visual e narrativo, O Hospedeiro é uma grata surpresa vindo do cinema Sul-Coreano, que parece viver um momento muito bom. Sem jamais cair de ritmo, com cenas de grande impacto de forte conteúdo emocioal, sem jamais parecer piegas, o filme ganha o espectador por um emaranhado de estilos, sem parecer confuso jamais e com muita competência, desde os trabalhos técnicos, como planos e ângulos de cãmera inusitados, como uma apresentação interessantíssima dos personagens.

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